domingo, janeiro 29, 2006

postaberta / A MARIA CAVACO SILVA



Senhora Dra. Maria Cavaco Silva,

As fotografias que encimam esta postaberta transmitem-nos a ideia de uma futura primeira-dama, não coincidente com o que, à boca pequena, se comenta acerca da imagem que V. Exa. terá deixado enquanto mulher do ex-primeiro ministro Cavaco Silva.
O seu marido surpreendeu muita gente - e terá recebido muitos votos - por ter referido na campanha que é um homem diferente do que foi enquanto primeiro ministro.
Pode parecer despiciendo, mas é da maior importância que V. Exa. assuma uma postura diferente da que mostrou nessa altura.
As mulheres, em Portugal hoje, constituem mais de 50% da população, estando a atingir mesmo os 53%.
Não foi V. Exa. que foi eleita Presidente da República (PR) mas não deve ignorar o papel que uma acção adequada, bem posicionada, do 'cargo' de mulher do PR pode representar como estímulo para o colectivo nacional.
Há muitas décadas - muitas mais do que as décadas que temos de vivência democrática pós-revolução de 1974 -, que as primeiras damas não desempenham um papel consonante com o seu estatuto.
Ou porque, de um lado, houve um longo consulado de primeiro ministro todo-poderoso solteiro, ou porque, de outros lados, o machismo de PR's esquerdosos casados acabrunhou qualquer veleidade nesse sentido.
A magistratura de influência da primeira dama tem mais importância do que se vislumbra à vista desarmada e V. Exa. está por isso obrigada a deixar o recato das suas coisas pessoais para se dedicar às suas coisas públicas.
Pode fazer história, sem contudo misturar o seu papel com o do seu marido.
Diz-se que V. Exa. tem sido determinante nas decisões mais importantes da vida do seu marido, vida que cada vez mais se confunde, nestas épocas, com a vida do país.
Não é difícil presumir que é verdade e, assim sendo, o que se lhe pede é que deixe de actuar na sombra e passe a desempenhar o 'cargo' de modo inovador, com eficiência, marcando a diferença para com as suas aborrecidas antecessoras.
O que se lhe pede é que ponha ao serviço da sociedade o bom senso, a capacidade e a inteligência que, com comprovado sucesso, tem usado no aconselhamento da vida política do seu marido.
Num país em que à maioria das mulheres é vedado permanente e sistematicamente o acesso aos lugares de poder de decisão, esperamos que nos surpreenda com uma acção ponderada, conhecedora dos limites, mas notória.
Cumprimentos.