sexta-feira, setembro 30, 2005

índice / SETEMBRO 2005

Último dia de Setembro, data própria para apresentação do índice dos posts publicados durante este mês.

- textos de fundo: O Interesse Nacional Sempre;
Rúbricas Novas
-rúbrica referências, com os títulos: Aristóteles, Christopher Lasch, Johannes Althusius, Serge Latouche, Johann Gottfried von Herder, Martin Heidegger;
-rúbrica dito pelo próprio, com o título: Jorge Sampaio Falhou Rotundamente;
Rúbricas já existentes
-rúbrica princípios, com os seguintes títulos: Religião, O Papel das Ideias;
-rúbrica fancy, com os seguintes títulos: Queremos Mais, O Supra-Sumo da Barbatana, O Porquê Dos Maus Sinais, Glamour;
-rúbrica magister dixit, com os seguintes títulos: O Que O Faz Mover?, Merda!;
-rúbrica offside, com o seguinte título: Coveiros;
-rúbrica socos, com o seguinte título: P'ra Trás;
-rúbrica aisthesis, com os seguintes títulos: Apelo, Sensual Nudes, Amor em Monsanto, La Louve, Allegro;
-rúbrica hope, com o seguinte título: Ending Extreme Poverty;
-rúbrica trapalhadas, com os seguintes títulos: Estagnação versus Crescimento, Medicamentos ao Preço da Chuva;
-rúbrica caminhos, com os seguintes títulos: IV República, For a Living Planet;
-rúbrica parti pris, com os seguintes títulos: Salazar a Vomitar a Pátria, Um País por Achar neste País;
-rúbrica descaminhos, com os seguintes títulos: O Sétimo País Mais Endividado do Mundo, Um Governo a Duas Velocidades;
-rúbrica produtividade, com o seguinte título: Reforma do Governo.

fancy / GLAMOUR

sexta-feira, setembro 23, 2005

magister dixit / MERDA!

Merda!
A Europa tem sede que se crie, tem fome de Futuro!
A Europa quer grandes Poetas, quer grandes Estadistas, quer grandes Generais!
Quer o político que construa conscientemente os destinos inconscientes do seu Povo!
Quer o poeta que busque a Imortalidade ardentemente, e não se importe com a fama, que é para as actrizes e para os produtos farmacêuticos!
Quer o general que combata pelo Triunfo Construtivo, não pela vitória em que apenas se derrotam os outros!
A Europa quer muito desses políticos, muitos desses Poetas, muitos desses Generais!
A Europa quer a Grande Ideia que esteja por dentro destes Homens Fortes - a ideia que seja o Nome da sua riqueza anónima!
A Europa quer a Inteligência Nova que seja a Forma da sua Matéria caótica!
Quer a Vontade Nova que faça um Edifício com as pedras-ao-acaso do que é hoje a Vida!
Quer a Sensibilidade Nova que reúna de dentro os egoísmos dos lacaios da Hora!
A Europa quer Donos! O Mundo quer a Europa!
A Europa está farta de não existir ainda! Está farta de ser apenas o arrabalde de si-própria! A Era das Máquinas procura, tacteando, a vinda da Grande Humanidade!
A Europa anseia, ao menos, por Teóricos de O-que-será, por Cantores-Videntes do seu Futuro!
Dai Homeros à Era das Máquinas, ó Destinos científicos! Dai Miltons à Época das Cousas Eléctricas, ó Deuses interiores à Matéria!
Dai-nos Possuidores de si-próprios, Fortes, Completos, Harmónicos, Subtis!
A Europa quer passar de designação geográfica a pessoa civilizada!
O que aí está a apodrecer a Vida, quando muito é estrume para o Futuro!
O que aí está não pode durar, porque não é nada!
Eu, da Raça dos Navegadores, afirmo que não pode durar!
Eu, da Raça dos Descobridores, desprezo o que seja menos que descobrir um Novo Mundo!
Quem há na Europa que ao menos suspeite de que lado fica o Novo Mundo agora a descobrir? Quem sabe estar em um Sagres qualquer?
Eu, ao menos, sou uma grande Ânsia do tamanho exacto do Possível!
Eu, ao menos, sou da estatura da Ambição Imperfeita, mas da Ambição para Senhores, não para escravos!
Ergo-me ante o sol que desce, e a sombra do meu Desprezo anoitece em vós!
Eu, ao menos, sou bastante para indicar o Caminho!
Vou indicar o Caminho!
(Álvaro de campos, in 'Ultimatum', Lisboa, Ática, 1980, pág. 120)

quinta-feira, setembro 22, 2005

descaminhos / UM GOVERNO A DUAS VELOCIDADES



No sector da energia, o governo congratulou-se com a decisão do Tribunal Europeu sobre a concentração entre a electricidade e o gás, em Portugal, proposta pelo anterior governo e contestada pelo PS, então na oposição.
Não era esse o modelo perfilhado pelo PS por uma razão: não garantia a concorrência e os prejudicados seriam os consumidores.
Muito bem, nada a opor: é uma posição legítima, defensável e com lógica.
Entretanto, o governo faz o quê no sector ferroviário? Atropela descaradamente o mesmíssimo princípio da concorrência que brande a propósito do sector energético!
Num diploma assinado por Guterres foi criada a REFER, para gerir a infraestrutura ferroviária, um indiscutível monopólio natural pelas suas características específicas.
Por isso, a REFER tem responsabilidades particulares, quanto à independência do seu comportamento em tudo o que respeite à igualdade de oportunidades que deve disponibilizar a todos os utilizadores da infraestrutura ferroviária, efectivos ou potenciais.
Ora o que tem estado a fazer o governo no processo Bombardier na Amadora? O governo cilindrou todo e qualquer dever de garantia da concorrência, ao colocar a REFER a adquirir instalações à Bombardier para, acto contínuo, as entregar à CP!
Mas mais, o regulador do sector, o INTF, criado também pelo PS, assiste impávido e sereno a esta obscena violação dos princípios da concorrência. E, no entanto, o INTF, tem especiais deveres de promoção da concorrência, como consta do art. 10.º dos seus estatutos.
O sector ferroviário é um dos sectores que mais recursos do erário público sorve, recursos que, melhor geridos, poderiam contribuir fortemente para ser evitada a retirada de benefícios às pessoas que este governo tem vindo a praticar.
Gerir melhor esses recursos exige a introdução de concorrência no sector ferroviário, sem demoras. Introduzir a concorrência não é, contudo, colocá-la na lei e, depois, fazer de conta, não a praticando nos actos de gestão de quem tem deveres nesse campo.
O caso da Bombardier, não sendo a mais significativa omissão de concorrência no sector, é exemplar. Se a REFER compra as instalações da Bombardier, não as pode colocar na CP, como foi referido publicamente, sem cumprir as regras da concorrência a que está estritamente obrigada, disponibilizando-as à CP ou a quem concorrer com a CP em concurso público transparente.
Este governo, ao contrariar princípios tão essenciais a uma boa gestão e ao incumprir legislação criada pelo seu próprio partido no passado recente, inviabilizando todo e qualquer resquício de dinamismo económico no sector, que outra coisa está a fazer - acumulando casos flagrantes como este -, senão conduzir o país à miséria?

quarta-feira, setembro 21, 2005

marco / RESSURGIMENTO DO GRAND PALAIS

Paris dá o exemplo, com o fim da profunda restauração do Grand Palais e a sua recondução às funções para que foi concebido, há mais de um século.
As cidades precisam de se reconhecer no passado que constitui a sua história.
Por ocasião da pré-campanha para as eleições autárquicas em Lisboa, faz sentido perceber-se quais as propostas dos candidatos quanto à recuperação de tanto património degradado.
A demolição do velho cinema Monumental, no Saldanha, no tempo do Eng. Nuno Abecassis, marcou uma geração, pela frieza demonstrada por uma tal autorização.
O que pensará disso a herdeira do testemunho de Nuno Abecassis, Maria José Nogueira Pinto, candidata nestas eleições?
O Grand Palais reabriu há poucos dias para as Jornadas do Património e já está a ser disputado pela Alta Costura para os desfiles do próximo Outono.

trapalhadas / MEDICAMENTOS AO PREÇO DA CHUVA


Mais uma refinada trapalhada deste governo, que ganhou as eleições a criticar as trapalhadas do anterior.
Esta é a dos preços dos medicamentos que, no quadro da seca extrema em que o país vive, estão afinal ... ao preço da chuva.
Trocas e baldrocas, genéricos que sim mas que talvez, sobem os preços, mas que ainda se vendem pouco, portanto que não tem efeito, farmacêuticos que manipulam, no entanto conseguem do governo prazo de venda a preços antigos sem limite, enfim que valentíssima trapalhice, à antiga!
Se não fosse o trabalho de casa, feito a sério, pelo governo anterior na Educação para o início do ano lectivo decorrer por uma vez bem - cuja boleia este governo apanhou sem pestanejar, através de uma ministra que, pois..., não conhece os limites da soberania nacional-, o que é que restava fora da monumental série de trapalhadas da governação, a bater todos os limites de decência conhecidos?

produtividade / REFORMA DO GOVERNO




A não criação de riqueza é a fonte principal dos problemas que o país sente, uma vez que tem como efeito a chamada, pelo actual Governo, de todos os sectores da população a participarem com o sacrifício dos seus direitos na alegada solução das dificuldades financeiras.
A não criação de riqueza acontece fundamentalmente por Portugal apresentar um muito baixo nível de produtividade, por um lado, e não registar uma taxa de crescimento da produtividade em consonância com esse nível baixo, por outro.
Mais grave ainda do que tudo isso, não existe um programa com objectivos definidos para se atingir a taxa de crescimento da produtividade necessária.
É consensual entre os portugueses que um dos factores essenciais da baixa produtividade nacional consiste na burocracia, patente em muito serviços públicos e, por arrasto, até em muitos serviços privados que seguem o modelo estatal.
A burocracia excessiva de que Portugal sofre começa no próprio governo e não se resolve com estudos, resolve-se com a atribuição de poder e de independência a um orgão dotado de personalidades com méritos amplamente reconhecidos na sociedade, na matéria.
Não parece que a Comissão Bilhim possa trazer algo de significativo neste campo decisivo para a superação da crise nacional, por uma razão evidente: o autismo do primeiro ministro.
Estão prometidos resultados dos estudos para meados de 2006! E estão prometidas decisões para depois, como se o país pudesse esperar e como se não houvesse personalidades que sabem perfeitamente o que é necessário fazer!
As clientelas partidárias, que o primeiro ministro já demonstrou, com todo o despudor, não ter conseguido domar no seu PS (se é que alguma vez teve essa intenção) jamais deixarão que a racionalização que se impõe, desde logo ao nível do governo, avance.
Não é com este governo, nem com esta maioria parlamentar que o problema se resolve.

domingo, setembro 18, 2005

fancy / O PORQUÊ DOS MAUS SINAIS

Maria de Fátima Bonifácio (MFB) faz parte dos intelectuais portugueses activos, publicando regularmente as suas análises na comunicação social, como é o caso do artigo de hoje no Publico, intitulado Maus Sinais.
Como historiadora, estará provavelmente mais apta a explicar o passado.
O artigo explicita, no entanto, uma observação da actualidade nacional, consensual, referindo MFB que "um considerável leque de funcionários do Estado, incluindo titulares de orgãos de soberania (os juízes), estão pois em guerra aberta com o governo".
O artigo expende também a sua opinião: "Desapareceu, em Portugal, toda a espécie de respeito pelo quer que seja".
Como já tinha referido, a respeito de Vasco Pulido Valente, MFB observa, analisa, opina, mas não apresenta soluções.
Aliás, vale dizer, nesta mesma edição do Público, Vasco Pulido Valente procede a uma análise de 'Como se chegou aqui ?', notável.
E a questão é esta: MFB, como intelectual, não tem responsabilidades na situação em que o país está e no caminho deveras crítico que está a percorrer?
Em O Papel das Ideias, abordei este tema, mencionando que "os intelectuais, sendo os agentes da produção e da divulgação das ideias e respectivas teorias, não podem realizar o vital papel das ideias nos conturbados tempos que vivemos, se não cortarem completamente com as suas posições de defesa do sistema vigente".
MFB, no essencial, acha que os funcionários públicos, juízes, forças de segurança e militares incluídos, não deviam comportar-se assim.
Acha que "O Bloco e o PCP, que contam medrar e florescer no ambiente de anarquia que define a 'democracia avançada', aprovam, com típica irresponsabilidade, este estado de coisas".
E faz uma ligeira crítica ao governo, não o vendo "revestido da autoridade necessária para impor aos portugueses os sacrifícios indispensáveis à recuperação do país".
Ora, assim, MFB mais não faz do que legitimar o sistema vigente, como têm feito outros intelectuais que, ainda que criticando, alinham num processo de integração da contestação que em nada beneficia o regime.
O fracasso da revolução política de 1974 vai-se concretizando como resultado da ausência de um quadro de valores substitutivo do anterior.
Um quadro capaz de gerar uma nova função para Portugal no mundo, em que o papel histórico dos portugueses não seja pura e simplesmente apagado.
É precisamente aqui que os intelectuais portugueses têm falhado estrondosamente!
E não se lhes pode assacar responsabilidades?
Na História, a força das ideias é claramente mais persuasiva, e sempre foi mais consequente, nas longas durações, do que a das políticas, e MFB tem de saber isso pelo seu trabalho de historiadora.
Antes de tudo o mais, o que falta hoje - e desde há muito tempo já -, a Portugal, são ideias. O resto vem por acréscimo.

sábado, setembro 17, 2005

aesthesis / ALLEGRO

Sente como vibra
Doidamente em nós
Um vento feroz
Estorcendo a fibra

Dos caules informes
E as plantas carnívoras
De bôcas enormes
Lutam contra as víboras


E os rios soturnos
Ouve como vazam
A água corrompida

E as sombras se casam
Nos raios noturnos
Da lua perdida...

(Oxford, 1939, in 'Livro de Sonetos', Rio de Janeiro, Sabiá, 1967, pág. 48)

sexta-feira, setembro 16, 2005

descaminhos / O SÉTIMO PAÍS MAIS ENDIVIDADO DO MUNDO


De acordo com a notícia de hoje do Jornal de Negócios, referindo o 'Global Financial Stability Report, do IMF, "Portugal foi em 2004 o sétimo país que mais se endividou em todo o Mundo em termos absolutos, um resultado especialmente preocupante se se levar em conta a pequena dimensão do país".
Os sinais de crise profunda, histórica, em que Portugal tem vindo a mergulhar, não páram de se evidenciar.
As razões da crise não são superficiais. Como tem vindo a ser apontado aqui, mais do que medidas pontuais e de reformas sem nexo, o país precisa de um conceito estratégico de defesa nacional (CEDN) que incida sobre a criação de riqueza.
Mas este novo CEDN, embora tenha de reintroduzir no seu conteúdo a estratégia económica de Portugal (que Paulo Portas, enquando ministro de estado e da defesa, inexplicavelmente, apesar de avisado, anulou na revisão do CEDN que levou a cabo), tem de obedecer a uma ideia prioritária: a da função que queremos que Portugal desempenhe no mundo.

dito pelo próprio / JORGE SAMPAIO FALHOU ROTUNDAMENTE

Miguel Sousa Tavares, já anteriormente referido aqui no re-Descobrimentos, publica hoje, no Público, um artigo intitulado 'Partido e Estado', onde diz:
"Foi aqui, exactamente, na capacidade de estabelecer um clima saudável na vida pública e política do país, que Jorge Sampaio falhou rotundamente, assistindo e, de facto, presidindo a dez anos de degradação sistemática da vida democrática em Portugal" (sub. n/)

fancy / O SUPRA-SUMO DA BARBATANA


CAPITAL
Casas, carros, casas, casos.
Capital
Encarcerada.

Colos, calos, cuspo, caspa.
Cantos, castas. Calvos, cabras.
Casos, casos...carros, casas...
Capital
Acumulado.

E capuzes. E capotas.
E que pêsames! Que passos!
Em que pensas? Como passas?
Capitães. E capatazes.
E cartazes. Que patadas!
E que chaves! Cofres, caixas...
Capital
Acautelado.

Cascos, coxas, queixos, cornos.
Os capazes. Os capados.
Corpos. Corvos. Copos, copos.
Capital,
Oh! Capital,
Capital
Decapitada!

(David Mourão-Ferreira, in 'ESTA É A DITOSA PÁTRIA MINHA AMADA', Lisboa, 1977, Terra Livre, pág. 71)

quinta-feira, setembro 15, 2005

O INTERESSE NACIONAL SEMPRE

Disse o primeiro ministro de Portugal, discursando há dias no cenário das 'Novas Fronteiras', do seu partido, que não serão as manifestações e as greves que o farão desviar de tomar as medidas que o interesse nacional impõe.
O interesse nacional uma vez mais e ... sempre!
A despudorada prepotência que as atitudes deste primeiro ministro demonstram, obriga-nos a trazer à superfície a objectividade possível na noção de interesse nacional, relevante para a situação que o país atravessa.
Assim, é com certeza do interesse nacional "promover o bem-estar e a qualidade de vida do povo", que estão, aliás, definidos na Constituição como tarefas fundamentais do Estado (art.º 9.º).
E é seguramente do interesse nacional, porque na mesma Constituição se estabelece como incumbência prioritária do Estado, "promover o aumento do bem-estar social e económico e da qualidade de vida das pessoas" (art.º 81.º).
Não pode haver quaisquer dúvidas sobre a importância destes objectivos na circunscrição da noção de interesse nacional: falamos, nada mais nada menos, de tarefas fundamentais e de incumbências prioritárias do Estado!
Na prossecução desses objectivos, a Constituição atribui claras competências ao governo, no âmbito do desenvolvimento económico do país, sem o qual seria impossível concretizar aquelas tarefas e incumbências.
O artigo 81.º não deixa margem para controvérsias quando, declaradamente, não se limita a referir simplesmente o bem-estar social e económico como incumbência prioritária, mas refere designadamente o aumento do bem-estar social e económico.
Não obstante tanta clareza sobre o que é o interesse nacional, o governo mostra toda a celeridade em "apertar o cinto", ou seja, em retirar regalias às pessoas. E aparenta ter todo o tempo do mundo para desenvolver a economia e, assim, evitar a diminuição do bem-estar social.
O ministro da economia, peça central no mecanismo de cumprimento dos preceitos constitucionais que o governo aceitou sob juramento, por onde anda?
A mentira em campanha eleitoral como método de assalto ao poder, transfigura-se agora na mais descarada mistificação do interesse nacional pelos próprios detentores do poder político.
Estamos, no entanto, cada vez mais perto de saber se a opinião pública portuguesa vai continuar a legitimar os tiques autoritários da autêntica novela governamental em que estamos metidos.

segunda-feira, setembro 12, 2005

caminhos / FOR A LIVING PLANET



Definitivamente, as atitudes passivas em relação à defesa do ambiente traduzem-se num preço - cada vez mais elevado - a pagar pelos habitantes do planeta. O relatório "Global Warming and Terrestrial Biodiversity Decline" é muito actual, constituindo um oportuno alerta para as atitudes passivas evoluirem para atitudes activas.

parti pris / UM PAÍS POR ACHAR NESTE PAÍS

Canto a raiz do espaço na raiz
do tempo. E os passos por andar nos passos
caminhados. Começa o canto onde começo
caminho onde caminhas passo a passo.
E braço a braço meço o espaço dos teus braços:
oitenta e nove mil quilómetros quadrados.
E um país por achar neste país.

(RAIZ, in 'O Canto e as Armas', Coimbra, Centelha, 1974, pág. 23)

sábado, setembro 10, 2005

caminhos / IV REPÚBLICA

Sobre a necessidade de uma alteração substancial do sistema político em que Portugal actualmente se afunda, parece haver cada vez menos dúvidas.
Isso significa o advento da IV República.
No panorama das próximas eleições presidenciais, que se vai revelando, haverá condições para tal?
A emergência da IV República implicará sempre um corte com a actual, isto é, confirmará o descalabro a que conduziram as políticas encetadas, como resultado da ausência de visão e de estratégia para o país saído do ciclo do império.
Cada país tem a sua História e Portugal, com a sua, não deve enjeitar por muito mais tempo a redefinição, ainda que prospectiva, da sua função no mundo.
É esta redefinição que poderá desencadear uma estratégia de suporte à indispensável especialização da economia portuguesa, para competir adequadamente nos mercados internacionais.
E assim poder sustentar a consolidação da democracia que Cavaco Silva, no seu artigo de hoje no Expresso, tanto faz depender da economia.
Isso implica interpretar a Constituição e cumpri-la numa perspectiva de objectivos, correspondendo estes à nova função definida pelos portugueses, para Portugal no mundo.
A questão que se coloca, portanto, é a de se saber se Mário Soares e Cavaco Silva terão as condições pessoais e políticas para impulsionarem o surgimento da IV República.
Quer Mário Soares, quer Cavaco Silva, não têm essas condições, a menos que surpreendam tudo e todos...
Não tardará muito para percebermos se esta muito remota hipótese de uma grande surpresa, terá porventura algum espaço para caminhar.
A alternativa, seja sob que forma for que se venha a concretizar, incluirá, muito certamente, a formação de um movimento pela emergência da IV República, pela reabilitação da capacidade dos portugueses confiarem nas suas qualidades colectivas.

sexta-feira, setembro 09, 2005

aisthesis / AMOR EM MONSANTO

trapalhadas / ESTAGNAÇÃO versus CRESCIMENTO



Continua a já longa série de trapalhadas e episódios do governo de Sócrates, sem que Sua Excelência o Presidente desta República explique ao país se foi para isto que desencadeou o golpe de estado constitucional da dissolução da anterior Assembleia da República.
Não se trata apenas de mais uma trapalhada. Estamos já no domínio da hipocrisia.
Uma observação minimamente atenta do crescimento anunciado mostra que o indicador que melhor poderia traduzir a confiança dos empresários - o investimento -, diminuiu.
As exportações, indicador que traduz um crescimento saudável da economia, caíram 4,5%!
Por outro lado, o crescimento, de apenas 0,5% no 2.º trimestre deste ano, deve-se ao aumento da procura interna. E esta acelerou devido tão-só a um factor conotado com a própria crise que Portugal vive, ou seja, devido à antecipação de compras pelos portugueses no mês de Junho, para evitarem o aumento do IVA decretado pelo governo.
O crescimento da economia portuguesa no primeiro semestre mostra um crescimento de 0,1%, o que, analisando a sua composição, permite antever que, no cômputo anual, haverá recessão. O ministro das Finanças sabe disso e ficou-se pela admissão de estagnação.
O primeiro ministro, ao pretender fazer crescer a economia "por decreto", envolveu-se em mais uma trapalhada, mascarando a realidade com um desejo.
Mas as trapalhadas e a hipocrisia seriam ainda assim o menos mau que nos podia acontecer, porque, de facto, o que o comportamento do governo acaba por demonstrar é uma preocupante incompetência.

quarta-feira, setembro 07, 2005

socos / P'RA TRÁS

De acordo com notícia do Correio da Manhã de hoje, Portugal anda para trás:

referências / SERGE LATOUCHE


Je pense que pour le meilleur et pour le pire le monde est devenu un village planétaire. Je pense que l’universalisme actuel est un universalisme imposé par un impérialisme culturel occidental et qu’il ne peut mener qu’à un chaos. Mon ami Bertrand Badie dit que l’on s’oriente peut-être vers de nouvelles formes impériales, avec des souverainetés emboîtées. Je pense d’abord que l’on s’avance vers un immense chaos, mais au delà de ce chaos, comme dans la trilogie d’Isaac Asimov, on irait vers un nouvel empire, qui je l’espère ne serait pas un nouvel empire du mal, mais une organisation où il-y aurait une articulation successive de niveaux de souveraineté. Je crois que la démocratie ne peut fonctionner qu’à un niveau local. Platon donnait 5040 citoyens pour la république idéale, je serais presque encore plus restrictif que lui. J’observe qu’un grand nombre de décisions de la vie quotidiennes devraient être prises au niveau des communautés de base : maisons, immeubles, quartiers. (subl. n/)

terça-feira, setembro 06, 2005

princípios / O PAPEL DAS IDEIAS

O caminho percorrido por Portugal desde a revolução de 1974 até chegar à crise actual, é um exemplo, entre muitos da História Universal, que serve para demonstrar que as revoluções políticas, quando comparadas com a força das ideias, não provocam mudanças realmente consequentes e duradouras nas sociedades.
Não podemos esquecer que, mesmo revoluções com o impacto da de 1789, em França, são vistas por pensadores tão significativos como, por exemplo, Alexis de Tocqueville, não em termos de ruptura, mas, pelo contrário, como continuidade.
Neste sentido, a "política" - de que a revolução é um climax -, constitui-se num conjunto de meios demasiado limitados para poderem originar verdadeiras mudanças sociais.
O campo de acção da "política", de resto, tem-se vindo a restringir progressivamente, quer por uma absorção dos extremos pelo centro, quer pela globalização, quer pela determinação tecnológica.
Como consequência, reduz-se a uma prática activista, frequentemente resultante da urgência atribuída aos acontecimentos ou factos, legitimadora da angustiante economia das ideias e da teoria que se verifica, muito especialmente em Portugal.
O papel das ideias, hoje, não é mais o da hegemonia ideológica que diversas correntes desempenharam, sem terem atingido os objectivos.
É, antes, o de fazer emergir as referências que se tornam indispensáveis à vida em sociedades humanas, no seio de um ambiente, de uma natureza que não pode excluir, nem ser excluída pelo homem.
Referências que, de certo modo, podem retomar valores inscritos no património cultural da humanidade, entretanto afastados pela hegemonia das ideologias do uno e, ou do todo.
Os intelectuais, sendo os agentes da produção e da divulgação das ideias e respectivas teorias, não podem realizar o vital papel das ideias nos conturbados tempos que vivemos, se não cortarem completamente com as suas posições de defesa do sistema vigente e se não enjeitarem definitivamente os cenários do espectáculo mediático.

referências / JOHANNES ALTHUSIUS

segunda-feira, setembro 05, 2005

offside / COVEIROS

Podiam até ter sido outros extremistas do centro, pelas mesmas espiadas razões, mas foi o PS!
Foi o PS que, no estertor do guterrismo governamental, decidiu atribuir o fornecimento dos veículos do Metro Sul do Tejo à Siemens, sabendo que não seriam fabricados em Portugal, na tão disputada fábrica da Amadora.
Sabendo que eles viriam da Áustria, por camião, inteirinhos, prontos a usar...como acontece agora que, curiosamente, está outra vez no governo, para os receber de braços abertos, com a inconsciência própria de quem espezinha os mais elementares interesses nacionais.
É por estas e por outras que o PS é, objectivamente, um dos coveiros da indústria nacional, não pestanejando sequer quanto aos efeitos que essa adjudicação teria, como efectivamente teve, na indústria ferroviária portuguesa.
E não se venha com o obsoleto argumento que a Siemens tem muito investimento em Portugal e que emprega muita gente.
Não fossem outros interesses alevantarem-se no seio de quem decidiu, ainda nos daríamos ao trabalho de fazer entrar naquelas duras cabecinhas que o que interessa é o investimento sector a sector.
Trata-se de um atentado económico e estratégico, argumentar com investimentos e postos de trabalho, proporcionados pela Siemens num ou mais sectores, para justificar uma adjudicação noutro sector diferente desses.
A fábrica da Amadora está fechada e o Estado "engoliu" mais uns tantos trabalhadores, na ultra-falaciosa perspectiva de que a falida EMEF, detida pela falida CP, vai fazer da Amadora um Centro de Competência...
É justamente com esta atitude, que não pode deixar de ser conotada com o benefício de interesses particulares, é com actos deste calibre que Portugal vai empobrecendo aceleradamente, como já é patente aos olhos de todos.
Se, como disse Freitas do Amaral, Portugal não pode dar lições sobre corrupção a nenhum país do mundo, eu digo que, em lado algum, incluindo os países mais sub-desenvolvidos do globo, para mais com uma fábrica de material circulante com tecnologia da mais avançada, se encomendariam veículos ferroviários "pronto-a-usar", sem qualquer intervenção da indústria nacional no seu processo de fabrico.
O direito à indignação, tão caro ao repetente candidato a PR desta família de coveiros, não chega para condenar comportamentos de tal modo gravosos para o futuro da sociedade portuguesa.
É preciso mais.

referências / CHRISTOPHER LASCH

Communitarians share with the Right an opposition to bureaucracy, but they don’t stop with an attack on governmental bureaucracy; they are equally sensitive to the spread of corporate bureaucracy in the misnamed private sector. Indeed they tend to reject the conventional distinction between the public and the private realm, which figures so prominently both in the liberal tradition and in the tradition of economic individualism which now calls itself conservatism (with little warrant). Both liberals and conservatives adhere to the same empty ideal of freedom as privacy; they disagree only about what is truly private. For liberals and “radicals,” it is freedom of religion, freedom of speech, freedom of sexual preference that need to be protected, whereas those who call themselves conservatives value economic freedom more highly. The Left understands private life as primarily cultural, the Right as primarily economic. Communitarianism rejects both the left-wing and the right-wing version of the cult of privacy; and the promise of communitarian thought is already suggested by the difficulty of situating it on the conventional political spectrum. It breaks out of the deadlock between welfare liberalism and economic individualism, the opposition of which has informed so much of our politics in the past. Instead of setting up the protection of private judgment as the summit of political virtue, the communitarian point of view shows just how much the individual owes, not only “society” that abstraction routinely invoked by the Left—but to the concrete associations (in both senses of the word) without which we would be unable to develop any sense of personal identity at all. (subl. n/)

marco / O ARQUITECTO DA MODERNIDADE



sábado, setembro 03, 2005

magister dixit / O QUE O FAZ MOVER?

"Todavia, sem ter sido escravo, fui sempre obedecendo à lei natural, passando do estar para o ser, da informação para o conhecimento, do conhecimento para a inovação, da inovação para a acção, da acção para o fazer e para o fazer fazer. Tudo isto com a preocupação sentida, nunca programada, de criar riqueza e de a distribuir, sem recurso às vias burocráticas, ineficientes e, por vezes, corruptas, dum Estado centralizado e sem alma nem valores.
...
Tendo eu vivido durante um período extraordinário no século passado - com tantas transformações tecnológicas, sociológicas, económicas e políticas - não tenho dúvidas em afirmar que ainda vivemos uma época de aceleração de tais transformações, nos quatro cantos do mundo. O grande teste para todos os seres humanos será, indubitavelmente, controlar o processo, para que a própria essência do ser humano não seja destruída, devorada, numa evolução autodestruidora causada pela convergência do poder da ciência com os excessos de liberalismo e com o esbatimento dos valores da nossa civilização.
Ser observador distante, através da leitura, da destruição de grandes civilizações nos últimos quatro milénios é, seguramente, diferente da probabilidade de ser sujeito passivo de um processo semelhante no actual século. É nossa obrigação evitar que tal aconteça.
Sendo eu optimista reincidente, acredito na fantástica capacidade dos homens e das mulheres para, na altura própria, parar a tempo, reflectir, fazer reviver valores culturais de outros tempos, encontrar novas combinações e novos equilíbrios, para garantir o conforto material do estar combinado com o prazer intelectual e o conforto espiritual do ser".
(Belmiro de Azevedo, Posfácio, in Magalhães Pinto, 'Belmiro História de Uma Vida, Lisboa, Âncora Editora, 2001, págs. 397 e 399)
POSTNOTA:
Belmiro de Azevedo desmentiu, através de carta publicada no Expresso de hoje, um putativo apoio à candidatura de Cavaco Silva às próximas presidenciais.
Na postaberta A BELMIRO DE AZEVEDO, aqui publicada há oito dias, supondo como certo esse apoio por não ter havido até então desmentido, mostrámos-lhe discordância.
O Senhor Engenheiro não desiludiu!

sexta-feira, setembro 02, 2005

fancy / QUEREMOS MAIS

Miguel Sousa Tavares será, dos espúrios comentadores da nossa praça, um dos que menos empenhado estará no processo da indisfarçada integração da opinião pública no sistema vigente.
Por isso, apesar do desalento que nos vai invadindo, valerá talvez a pena dizer que queremos mais.
É que não basta atacar o papel determinante de Cavaco na desgraça em que o país se encontra.
Soares tem ainda mais responsabilidades do que Cavaco e Miguel Sousa Tavares não deve escamotear isso; tem que se livrar dessa peia piegas que é a de perdoar a Soares os clamorosos erros que praticou, só porque "tem um percurso político como não há nenhum em Portugal".
Muito objectivamente: Soares não tem capacidade intelectual suficiente para ter estado e estar à frente de um país com a história de Portugal.
Tem um percurso político como não há nenhum outro em Portugal? Toda a história incluída?
É precisamente esta visão limitada dos comentadores que temos, que não permite o desenvolvimento de uma opinião pública forte!
Comentar o superficial, o facto quotidiano, confortavelmente, a par e passo de um telejornal, é no que dá...ou não será?
É que é uma autêntica banalidade afirmar que "o principal problema do país hoje é o problema dos partidos políticos".
A origem da profunda crise em que Portugal se encontra está, antes, na falta de pensamento político, na falta das orientações estratégicas produzidas por esse pensamento político e, consequentemente, das políticas que as concretizam.
Os comentadores abundam, mas nenhum se compromete com a elaboração, a divulgação e a discussão de um verdadeiro pensamento político.
Cavaco é um deserto em termos de pensamento político!
Mas, atenção, Soares segue uma cartilha velha de décadas, ultrapassada por todo o lado, servindo de tampão à emergência de uma 'nova esquerda'.
Por isso, a sua intervenção, porque cerceadora de espaço vital para o pensamento político novo, é ainda mais nociva.
A intelegentsia que ainda mexe, que dá sinais embora muito ténues de vida intelectual politicamente relevante - no meio do marasmo integrador que nos cerca -, não se deve limitar a verter a sua crítica, a sua desilusão, o seu desencanto, ou a sua esperança, no romance.
Queremos mais.

princípios / RELIGIÃO

"The predisposition to religious belief is the most complex and powerful force in the human mind and in all probability an ineradicable part of human nature. Émile Durkheim, an agnostic, characterized religious practice as the consecration of the group and the core of society. It is one of the universals of social behavior, taking recognizable form in every society from hunter-gatherer bands to socialist republics. Its rudiments go back at least to the bone altars and funerary rites of Neanderthal man. At Shanidar, Iraq, sixty thousand years ago, Neanderthal people decorated a grave with seven species of flowers having medicinal and economic value, perhaps to honor a shaman. Since that time, according to the antropologist Anthony F. C. Wallace, mankind has produced on the order of 100 thousand religions.
Skeptics continue to nourish the belief that science and learning will banish religion, which they consider to be no more than a tissue of illusions. The noblest among them are sure that humanity migrates toward knowledge by logotaxis, an automatic orientation toward information, so that organized religion must continue its retreat as darkness before enlightenment's brightening dawn. But this conception of human nature, with roots going back to Aristotle and Zeno, has never seemed so futile as today. If anything, knowledge is being enthusiastically harnessed to the service of religion. The United States, technologically and scientifically the most sophisticated nation in history, is also the second most religious - after India".
(Edward O. Wilson, 'On Human Nature', London, Harvard University Press, 1978, pág. 169)