domingo, setembro 18, 2005

fancy / O PORQUÊ DOS MAUS SINAIS

Maria de Fátima Bonifácio (MFB) faz parte dos intelectuais portugueses activos, publicando regularmente as suas análises na comunicação social, como é o caso do artigo de hoje no Publico, intitulado Maus Sinais.
Como historiadora, estará provavelmente mais apta a explicar o passado.
O artigo explicita, no entanto, uma observação da actualidade nacional, consensual, referindo MFB que "um considerável leque de funcionários do Estado, incluindo titulares de orgãos de soberania (os juízes), estão pois em guerra aberta com o governo".
O artigo expende também a sua opinião: "Desapareceu, em Portugal, toda a espécie de respeito pelo quer que seja".
Como já tinha referido, a respeito de Vasco Pulido Valente, MFB observa, analisa, opina, mas não apresenta soluções.
Aliás, vale dizer, nesta mesma edição do Público, Vasco Pulido Valente procede a uma análise de 'Como se chegou aqui ?', notável.
E a questão é esta: MFB, como intelectual, não tem responsabilidades na situação em que o país está e no caminho deveras crítico que está a percorrer?
Em O Papel das Ideias, abordei este tema, mencionando que "os intelectuais, sendo os agentes da produção e da divulgação das ideias e respectivas teorias, não podem realizar o vital papel das ideias nos conturbados tempos que vivemos, se não cortarem completamente com as suas posições de defesa do sistema vigente".
MFB, no essencial, acha que os funcionários públicos, juízes, forças de segurança e militares incluídos, não deviam comportar-se assim.
Acha que "O Bloco e o PCP, que contam medrar e florescer no ambiente de anarquia que define a 'democracia avançada', aprovam, com típica irresponsabilidade, este estado de coisas".
E faz uma ligeira crítica ao governo, não o vendo "revestido da autoridade necessária para impor aos portugueses os sacrifícios indispensáveis à recuperação do país".
Ora, assim, MFB mais não faz do que legitimar o sistema vigente, como têm feito outros intelectuais que, ainda que criticando, alinham num processo de integração da contestação que em nada beneficia o regime.
O fracasso da revolução política de 1974 vai-se concretizando como resultado da ausência de um quadro de valores substitutivo do anterior.
Um quadro capaz de gerar uma nova função para Portugal no mundo, em que o papel histórico dos portugueses não seja pura e simplesmente apagado.
É precisamente aqui que os intelectuais portugueses têm falhado estrondosamente!
E não se lhes pode assacar responsabilidades?
Na História, a força das ideias é claramente mais persuasiva, e sempre foi mais consequente, nas longas durações, do que a das políticas, e MFB tem de saber isso pelo seu trabalho de historiadora.
Antes de tudo o mais, o que falta hoje - e desde há muito tempo já -, a Portugal, são ideias. O resto vem por acréscimo.