sexta-feira, setembro 02, 2005

fancy / QUEREMOS MAIS

Miguel Sousa Tavares será, dos espúrios comentadores da nossa praça, um dos que menos empenhado estará no processo da indisfarçada integração da opinião pública no sistema vigente.
Por isso, apesar do desalento que nos vai invadindo, valerá talvez a pena dizer que queremos mais.
É que não basta atacar o papel determinante de Cavaco na desgraça em que o país se encontra.
Soares tem ainda mais responsabilidades do que Cavaco e Miguel Sousa Tavares não deve escamotear isso; tem que se livrar dessa peia piegas que é a de perdoar a Soares os clamorosos erros que praticou, só porque "tem um percurso político como não há nenhum em Portugal".
Muito objectivamente: Soares não tem capacidade intelectual suficiente para ter estado e estar à frente de um país com a história de Portugal.
Tem um percurso político como não há nenhum outro em Portugal? Toda a história incluída?
É precisamente esta visão limitada dos comentadores que temos, que não permite o desenvolvimento de uma opinião pública forte!
Comentar o superficial, o facto quotidiano, confortavelmente, a par e passo de um telejornal, é no que dá...ou não será?
É que é uma autêntica banalidade afirmar que "o principal problema do país hoje é o problema dos partidos políticos".
A origem da profunda crise em que Portugal se encontra está, antes, na falta de pensamento político, na falta das orientações estratégicas produzidas por esse pensamento político e, consequentemente, das políticas que as concretizam.
Os comentadores abundam, mas nenhum se compromete com a elaboração, a divulgação e a discussão de um verdadeiro pensamento político.
Cavaco é um deserto em termos de pensamento político!
Mas, atenção, Soares segue uma cartilha velha de décadas, ultrapassada por todo o lado, servindo de tampão à emergência de uma 'nova esquerda'.
Por isso, a sua intervenção, porque cerceadora de espaço vital para o pensamento político novo, é ainda mais nociva.
A intelegentsia que ainda mexe, que dá sinais embora muito ténues de vida intelectual politicamente relevante - no meio do marasmo integrador que nos cerca -, não se deve limitar a verter a sua crítica, a sua desilusão, o seu desencanto, ou a sua esperança, no romance.
Queremos mais.