quarta-feira, agosto 31, 2005

índice / AGOSTO 2005


Último dia de Agosto, data adequada para elaboração do índice dos posts publicados desde a manutenção / UM, em 25 de Julho.
Fundamentalmente, o índice destina-se a permitir uma localização simples dos textos de fundo, bem como das rúbricas e respectivos títulos, surgidos neste período.
Rúbricas Novas
-rúbrica descaminhos, com os títulos: Tampão, Roda Livre, O Golpe de Asa, Vergonha, Arrepiante, O Extremismo do Centro;
-rúbrica caminhos, com os títulos: Propostas, International Space Station, Angola, Memória;
-rúbrica marco, com os títulos: Caravela, Nónio, Vanessa, Povo;
-rúbrica cataventos, com os títulos: Superficial;
-rúbrica andeiro, com os títulos: Artista;
-rúbrica pilhérico, com os títulos: Montar, Leituras, Príncipes, O Reino Animal é o Limite;
-rúbrica postaberta, com os títulos: A Belmiro de Azevedo;
-rúbrica princípios, com os títulos: Definir Direita;
-rúbrica trapalhadas, com os títulos: Limpeza Coerciva;
Rúbricas já existentes
-rúbrica hope, com os seguintes títulos: Absurdas Diferenças, Prioridades, Modelos, Ciência, Dilema, Contra Natura?, Mulheres ao Poder;
-rúbrica produtividade, com os seguintes títulos: Bursts of Technological Innovation, Barómetro, Trust and Vitality, Nanotecnologia;
-rúbrica offside, com os seguintes títulos: Exorbitar, Esquerda Reaccionária;
-rúbrica parti pris, com os seguintes títulos: Defesa Económica, Identidade, Reflorestar, Ciudad Real, Eau Profonde, ...E Vão 14!;
-rúbrica socos, com os seguintes títulos: Férias, Culpados, Enxovalho;
-rúbrica fancy, com os seguintes títulos: Nas Bordas, Complexos, À Tona, Convite a Soares, Confrangedor.

offside / ESQUERDA REACCIONÁRIA


Este episódio da ex-futura candidatura de Manuel Alegre serve para desiludir todos aqueles que imaginaram, por um momento, ser ainda possível uma regeneração da esquerda portuguesa.
Está muito certo Manuel Alegre quando refere o estado calamitoso a que o país chegou, centrando a sua análise na extrema fragilidade do Estado e avisando sobre os perigos que o próprio regime democrático corre.
Mas está redondamente enganado quando não aponta aquilo que está à vista de todos: o que Portugal não tem, antes de tudo o mais, é uma visão estratégica sobre a sua função no mundo, na sequência da erradicação da que tinha até à revolução de 1974. E é daí que derivam todos os outros problemas.
Não sei se houve quem tivesse verdadeiras expectativas quanto à eventual craveira intelectual dos obreiros da queda do regime anterior.
O que sei é que, agora, está provado que é excepcionalmente fraca!
Foi fácil derrubar o anterior regime, ele próprio auto-flagelado, importando ideologia, teoria e prática políticas de outras realidades internacionais, para as aplicar, tardiamente embora, num Portugal sem qualquer dinâmica intelectual.
Entretanto, os conceitos que estiveram na base dessa importação evoluiram e evoluiram muito.
Só que o que se verificou foi uma estagnação dessa nova visão introduzida pela revolução, com a agravante de, já de si, ela consistir numa visão retardatária em relação a muitos dos países da área cultural, económica e política do Portugal saído da revolução.
Enquanto o mundo caminhava para uma 'nova esquerda', Portugal e a esquerda portuguesa acantonavam-se na velha visão da esquerda, reagindo sistematicamente à evolução das ideias.
Cristalizaram - e desesperadamente tentam manter - a sua posição universalista das grandes ideologias, do socialismo de massas subsidiário de um patriarca ou sacerdote.
Sacerdote sim, porque do que se trata, de facto, é de uma visão que perspectiva os grandes aparelhos político-burocráticos, Estado-nação incluído, como sucedâneos da fé religiosa. (O problema é mais este do que a sucessão dinástica anti-republicana de que Alegre acusa Soares).
A nova candidatura de Mário Soares (como contraponto de uma candidatura de Manuel Alegre que poderia alimentar algumas esperanças no sentido do surgimento de uma 'nova esquerda' em Portugal necessária ao enriquecimento do imperativo combate intelectual que é preciso travar), representa, de forma por vezes até vexatória, o atabalhoamento da reacção da velha esquerda à evolução da vida e das ideias que permitem interpretá-la em cada momento histórico.
Uma vez que, na chamada candidatura de direita, o deserto de ideias é, se possível, ainda mais confrangedor, o que resta para retirar deste cenário das próximas presidenciais é motivação para intensificar as críticas consequentes à falta de dinâmica intelectual capaz de elaborar soluções para Portugal.

terça-feira, agosto 30, 2005

socos / ENXOVALHO

Un duro golpe, dada la gran tendencia a huir manifestada en los últimos años por los gobernantes de Lisboa. Primero fue Guterres, en 2001, que se dijo incapaz de conducir los destinos del país, dado el "pantano" hacia donde caminaba. Después fue Barroso, que a la primera oportunidad prefirió cambiar Lisboa por Bruselas. Y sólo cuatro meses después, su sustituto fue destituido por el presidente de la República, harto de polémicas relacionadas con la figura de Santana Lopes. Un desgaste para el electorado y una sensación de que el país no es gobernable.
Pero antes de irse de vacaciones, Sócrates encendió la hoguera final que acabó por castigar su popularidad: eligió a diversos miembros del aparato del Partido Socialista, incluidos amigos personales suyos, para importantes cargos en la administración de empresas públicas o controladas por el Estado. Tras defender un discurso de austeridad, en el que insistió "en la moralización de la vida política y pública", impulsando leyes que recortaban los privilegios de los políticos y altos cargos de la Administración, era imposible cometer un error más grave.
(Subl. n/)
Convenhamos que seria difícil conseguir maior enxovalho, através de um jornal que pertence a um grupo que está interessado em comprar uma televisão em Portugal, com o acordo do citado Sócrates, segundo é do conhecimento público.

hope / MULHERES AO PODER


Um indicador interessante, o da composição dos parlamentos de 186 países, mostrando a percentagem de mulheres, em relação aos homens. Dados de 30 de Junho deste ano.
Portugal está em 36.º lugar, com 21,3% de mulheres. A mesma percentagem do Paquistão.
Está atrás de: Suécia (45,3); Noruega (38,2); Finlândia (37,5); Dinamarca (36,9); Holanda (36,7); Espanha (36,0); Bélgica (34,7); Austria (33,9); Alemanha (32,8); Suiça (25,0); Austrália (24,7); Lituânia (22,0); Croácia (21,7).
Está à frente de: Canadá (21,1); Bulgária (20,8); China e Polónia (20,2); Reino Unido (19,7); República Checa (17,0); Eslováquia (16,7); Estados Unidos da América (15,2); Israel (15,0); Irlanda (13,3); França e Eslovénia (12,2); Federação Russa (9,8).
Nos países nórdicos, a média é 39,9%;
Contra: 16,9% na Europa (países nórdicos excluídos); 18,8% nas Américas; 15,8% na África sub-sahariana; 15,2% na Ásia; 11,2% no Pacífico; 8,8% nos Estados Árabes.
Compreende-se assim, para além daquilo que já se podia intuir, porque é que os países nórdicos apresentam os melhores indicadores de desenvolvimento sustentado do mundo!

descaminhos / O EXTREMISMO DO CENTRO


Centrão lusitano é uma expressão demasiado suave, excessivamente conotada com a bonomia dos brasileiros, para caracterizar comportamentos políticos que chegam a pôr em causa a dignidade de um povo em integração numa Europa de eminentes referências.
Portugal sofre dos efeitos perniciosos da predominância de um extremismo de centro que, sendo exorbitante no tempo e no espaço, oprime.
Predominância não apenas na vida política, mas principalmente na comunicação social que molda a opinião pública, quer a mensagem seja proveniente de jornalistas, comentadores ou intelectuais.
A convergência dos regimes de protecção social é um exemplo perfeito, muito concreto, da implantação da ideologia igualitária no terreno social, sob a capa de quase consensuais necessidades financeiras próprias de um liberalismo tardio.
Os intelectuais de serviço ao sistema em que se cristalizou o regime democrático não geram a discussão necessária ao surgimento de um sistema alternativo.
As críticas que expendem, ampliadas por comentadores e jornalistas, traduzem-se num processo de integração do descontentamento e de interiorização da fatalidade, que apenas serve para fazer funcionar, de modo cada vez mais formal, o regime.
No centro avassalador, cerceador da reflexão e da criatividade, reunem-se a esquerda e a direita convencional, o que, em condições normais, deveria dar lugar a um contraditório exógeno, proveniente de críticos convincentes, munidos da teoria e da argumentação adequadas à dimensão do problema.
Mas o centro, ao reunir a esquerda e a direita (vistas na serôdia perspectiva parlamentar dos termos), assume formas de determinismo que facilmente se transformam em extremismo, castrador de contraditórios consequentes.
Sob a capa de crítica, às vezes incisiva, qual denegação freudiana do sintoma, assistimos na televisão aos domingos, segundas, terças e quartas, e nas colunas dos jornais todos os dias, a um esforço patriótico extremo, por parte dos comentadores, para assegurarem a unanimidade do centro.
Portugal, não obstante, tem história e memória a mais para, durante muito tempo, embarcar na encenação do extremismo do centro, por mais seguro e arrogante que ele demonstre estar.
Memória que implica fazer interferir a cultura europeia pré-cristã num modelo de concepção e acção política, subjacente a um sistema alternativo ao actual.
História que atribui responsabilidades na construção deste sistema a um povo que mostrou já, exuberantemente, durante séculos, na sua relação com muitos povos, de todos os continentes, a sua idiossincrasia.
Que se traduz num comportamento de base multicultural, defensor de identidades e modos de vida diferenciados, em alternativa à homogeneização social típica da lógica do capital a que, despudoradamente, aderem a esquerda e a direita que corporizam o extremismo do centro.

segunda-feira, agosto 29, 2005

trapalhadas / LIMPEZA COERCIVA

1.O presidente da república que temos quer que se imponha a "limpeza coerciva" da floresta, propriedade dos particulares;
2.O ministro da administração interna que temos diz que a lei já impõe a limpeza coerciva das florestas;
3.As matas nacionais da Tapada de Mafra e do Urso (Pombal), propriedade do Estado, ardem.
Quem é que precisa, afinal, de limpeza coerciva?

princípios / DEFINIR DIREITA

Chamo aqui de direita, por pura convenção, a atitude que consiste em tomar em consideração a diversidade do mundo e, por consequência, as desigualdades relativas que dela necessariamente decorrem, como um bem; e a homogeneização progressiva do mundo, proposta e realizada pelo discurso duas vezes milenário da ideologia igualitária, como um mal. Chamo de direita as doutrinas que consideram que as relativas desigualdades da existência induzem relações de força cujo produto é o devir histórico - e que consideram que a história deve continuar - resumindo, que "a vida é a vida, quer dizer, um combate, tanto para uma nação como para um homem" (Charles de Gaulle). Quer isto dizer que, a meus olhos, o inimigo não é a "esquerda", ou "o comunismo", ou ainda "a subversão", mas pura e simplesmente esta ideologia igualitária cujas formulações, religiosas ou laicas, metafísicas ou pretensamente "científicas" não deixam de florir desde há dois mil anos, de que as "ideias de 1789" não foram mais do que uma etapa e de que a subversão actual, e o comunismo, são a inevitável consequência.
Isto não significa, e fique bem entendido, que toda e qualquer desigualdade seja, a meus olhos, necessariamente justa. Pelo contrário, há numerosas desigualdades perfeitamente injustas; e muitas vezes são aquelas que a nossa sociedade igualitária deixa subsistir. Professar uma concepção anti-igualitária da vida é considerar que a diversidade é um dado da realidade, e que esta diversidade inclui as desigualdades de facto; que a sociedade deve tomar em conta estas desigualdades e admitir que o valor das pessoas, em relação aos diversos objectos, é incomensurável e diferente de uma pessoa a outra. É considerar que nas relações sociais, este valor é, essencialmente, medido pelas responsabilidades que cada um assume em relação com as suas aptidões concretas; que a liberdade reside na possibilidade efectiva de exercer essas responsabilidades; que a essas responsabilidades correspondem direitos proporcionados, e que de tal facto resulta uma hierarquia, baseada sobre o princípio uniquique suum.
(Alain de Benoist, 'Nova Direita Nova Cultura' ['Vue de Droite' no original], Lisboa, Edições Afrodite, 1981, pág. XXIV)

sábado, agosto 27, 2005

postaberta / A BELMIRO DE AZEVEDO

Senhor Engenheiro,

Notícias vindas a público e, até agora, não desmentidas, dão como certo o apoio de V. Exa. à candidatura de Cavaco Silva para as próximas eleições presidenciais.
Dando, portanto, como adquirido esse apoio, não posso deixar de lhe propor algumas reflexões, na sequência da surpresa com que me deparo.
A esperança que ainda resta aos portugueses, perante a série de acontecimentos negativos que têm vindo a acontecer há décadas, assenta necessariamente em figuras que, embora apoiem o regime político saído da revolução de 1974, têm sido muito críticas dos frequentes e graves erros e omissões cometidos pelos responsáveis políticos.
É o caso de V. Exa., que nunca desarmou perante a inépcia dos que, tendo pretendido e atingido o poder, demonstraram plenamente o falhanço das suas ideias e da sua prática política.
Não me parece que discorde do balanço fortemente negativo que, objectivamente, somos obrigados a fazer, depois de três décadas de esperanças dadas e frustradas, nos estafados capítulos da justiça, do ensino, da saúde, da economia, das finanças, etc..
O sistema que, dentro do regime democrático, foi sendo criado, sem critério, aos acrescentos, por impulso, sem estratégia definida, provou à saciedade que não serve.
A entrega generosa de Soares à causa pública, contribuindo muito para a conquista da democracia, fica-se por aí. O resto da sua intervenção traduz-se na crise de dimensão histórica que agora temos entre mãos para resolver.
Este sistema, que manifestamente tolhe as potencialidades de quem tem o sangue de antepassados de grande estirpe, tendo sido criado por defeito, mais não fez do que replicar características congénitas já exibidas pelo regime anterior.
É assim que a indústria nacional continua sem conseguir sair do nível de produtos de primeira transformação, acantonando-se mesmo cada vez mais na subcontratação.
Ora, não terá Cavaco Silva também extensas e profundas responsabilidades na consolidação e no desenvolvimento deste sistema que nos espartilha?
A sua longa manutenção no poder foi feita à custa de cedências cujos efeitos são muito difíceis de reverter. A desmesurada incentivação da concessão de crédito a particulares, deu uma ideia de eldorado à população que, alegre e despreocupadamente, foi votando no seu partido.
A outra face da moeda é o poder que os bancos adquiriram dentro do sistema, diluindo-se, já à vista desarmada, o controlo do poder financeiro pelo poder político. Coisa que nem Salazar alguma vez consentiu...
Senhor Engenheiro, não esperaria de si uma integração neste sistema, do qual não parece possível que Cavaco Silva venha a divergir.
O regime democrático português precisa mais que nunca de avatares, capazes de encarnarem ou apoiarem um sistema alternativo que tome em mãos as tarefas gigantescas que urgem.
O apoio de V. Exa. a Cavaco Silva corresponde à integração de uma personalidade depositária de esperança, num sistema falhado; traduz-se numa perda, no âmbito das reservas que um regime democrático tem de ter para fazer face às inevitáveis crises de consolidação e crescimento.
Apoiar Cavaco Silva, depois de tanta irreverência e oportuna crítica a que V. Exa. nos habituou, tão regeneradoras do espírito em tempos de grandes dificuldades, é coisa que não se faz.
Apetece-me dizer, como vem no princípio da sua biografia: - Fazes... apanhas!
Cumprimentos.

marco / POVO




Povo que lavas no rio
Que talhas com teu machado
As tábuas do meu caixão
Há-de haver quem te defenda
Quem compre o teu chão sagrado
Mas a tua vida não


Fui ter à mesa redonda
Beber em malga que esconda
Um beijo de mão em mão
Era o vinho que me deste
Água pura em fruto agreste
Mas a tua vida não


Aromas de urze e de lama
Dormi com eles na cama
Tive a mesma condição
Povo, povo eu te pertenço
Deste-me alturas de incenso
Mas a tua vida não

parti pris / ...E VÃO 14!


sexta-feira, agosto 26, 2005

aisthesis / FELICITAÇÕES MADAME


socos / CULPADOS


Incapazes de criarem as condições de crescimento da economia, impotentes para travarem a hemorragia da propriedade das empresas portuguesas para mãos estrangeiras, passivos perante o espectáculo da perda de autonomia económica e da independência nacional, os mais altos responsáveis pela condução do país, acantonam-se na cassação dos legítimos direitos e expectativas dos funcionários públicos.
Confortados por jornalistas e comentaristas que se limitam a analisar e discutir a espuma visível dos acontecimentos quotidianos, encontram o caminho livre para demonstrarem, com um descaramento revoltante, toda a sua pusilanimidade.
Quantos negócios fechou o Presidente da República (PR), como resultado das inúmeras viagens que fez ao estrangeiro, com enormes cortes de empresários? Quanta riqueza tratou de criar para obstar a esta degradante falta de palavra do Estado perante os seus funcionários?
Enganam-se aqueles jornalistas e comentaristas que entendem não serem devidas ao PR explicações rigorosas sobre os resultados práticos, concretos, das visitas de Estado, no que respeita à venda das nossas capacidades, do nosso saber fazer, dos nossos produtos e serviços.
Mais ainda do que um debate sobre se é conveniente omitir-se a publicação de imagens sobre os incêndios, é urgente concluir que é ultrajante divulgar-se a simentalona adoração do PR a museus vivos e mortos durante as visitas de Estado, sem se curar de retratar as razões da sua sistemática inépcia comercial.
O PR, como autor moral dos actos do Estado que ludibriam as expectativas dos seus funcionários, não mostrou, pois, serviço que lhe desse o direito de subscrever actos como o da convergência dos regimes, ou seja , subscrever um grave retrocesso no nível de vida de quem sofre as incompetências dos seus dirigentes.
O autor material mostrou, nestes escassos seis meses que leva de cargo, total desrespeito pelos compromissos eleitorais, figurando já no escol dos que, mormente a partir de Durão Barroso, usam a mentira como táctica para se apropriarem do poder.
Não é possível que a população, nos próximos actos eleitorais, perca a oportunidade de demonstrar a sua completa rejeição por um exemplo tão frouxo de capacidade de liderança.

quinta-feira, agosto 25, 2005

pilhérico / O REINO ANIMAL É O LIMITE

Excessos do marketing de segmentação das tabaqueiras?

aisthesis / SAGRES

caminhos / MEMÓRIA

fancy / CONFRANGEDOR

O post de José Pacheco Pereira UMA MEDIDA COMPLETAMENTE IRREALISTA E INAPLICÁVEL, força-nos a uma vinda a terreiro, em nome do discernimento que se deve sustentar, caminhando que estamos para a desorientação geral.
O sector situacionista da blogosfera, de que José Pacheco Pereira é o expoente máximo, insiste em tratar pela rama os problemas nacionais, como é agora o caso dos incêndios - e das medidas de repressão anunciadas pelo Governo e pelo PR.
Não evidenciar as razões de fundo que alimentam constantemente estes epifenómenos, propondo alternativas sérias, é contribuir para a manutenção do status quo, é ladrar e não morder!
Serão, afinal, coisas simples, coisas complicadas, ou é mais uma questão de ar puro?
O atoleiro em que mergulhamos também sobrevive à custa de análises e de críticas que não conseguem, ou não querem, colocar-se num posto de observação exterior ao sistema, de que este post é mais um exemplo acabado.
Sente-se bem, José Pacheco Pereira, em contribuir para a autofagia em que está a degenerar o regime democrático português?
Não exigirá, uma cidadania objectiva e consequente, que os comentários se centrem nas razões essenciais, nas causas não próximas da crise histórica que se adensa, em vez de se desgastarem nos efeitos empíricos, frequentemente colaterais, apenas capazes de aliviar a dor?
Definitivamente, a opção é: ar puro.

descaminhos / ARREPIANTE



Apesar de todos sentirmos os efeitos da incapacidade de liderança de que Portugal sofre, com crescente agravamento nas últimas décadas, é arrepiante o testemunho de Paulo Morais, na Visão de hoje.
Cabe registar tratar-se de uma entrevista que contraria a corrente de jornalismo e comentarismo situacionistas, incapazes, ou não interessados, em desenvolver na opinião pública uma crítica consequente à incapacidade gritante da maioria dos responsáveis políticos, nos mais elevados cargos do Estado.
É um testemunho vivo, directo ao cerne dos problemas em que Portugal se encontra e, para os quais, há culpados que devem ser sancionados.
Não é suficiente arrancar uma revolução sobre a forma de governação de um país, como fez Mário Soares.
A prova real da capacidade de um político traduz-se na sua competência para encontrar as soluções para a garantia do seu conteúdo, o que tem a ver com a independência do país e, portanto, com a sua autonomia económica.
Tanto Mário Soares como Cavaco Silva têm as maiores responsabilidades quanto à situação a que Portugal chegou, pelos cargos que desempenharam no topo do aparelho de estado, partidos incluídos.
O alerta de Paulo Morais é um sinal muito claro sobre o que se passa no interior desta democracia cada vez mais formal.
Traduz-se numa chamada de atenção para os perigos de se voltar a colocar o poder resultante do voto, nas mãos daqueles que já mostraram não ter soluções para os problemas que criaram.

quarta-feira, agosto 24, 2005

aisthesis / TERRA QUENTE


magister dixit / O POVO MAIS VELHACO DA TERRA



O que há de singular é que os Chineses, cuja vida é inteiramente dirigida pelos ritos, sejam, apesar disto, o povo mais velhaco da terra. E isto se percebe principalmente no comércio, que nunca lhes pôde inspirar a boa fé que lhe é natural. Aquele que compra, deve levar consigo a sua própria balança; cada negociante, possuindo três, costuma usar uma forte para comprar, outra leve para vender, e uma justa para aqueles que estiverem prevenidos. Julgo no entanto poder explicar esta contradição.
Os legisladores da China tiveram dois objectivos: quiseram que o povo fosse submisso e tranquilo, e que fosse laborioso e industrioso. Devido à natureza do clima e do solo, ele vive uma vida precária; não se pode ali assegurar a própria existência, senão com o esforço da indústria e do trabalho.
Quando todo o mundo obedece, e quando todos trabalham, o Estado permanece numa feliz situação. Foi a necessidade, ou talvez a natureza do clima, que deu a todos os Chineses uma avidez inconcebível pelo ganho; as leis não puderam pensar em refreá-la. Tudo ali foi proibido, sempre que foi questão de adquirir pela violência: tudo foi permitido, quando se tratou de obter mediante artifício ou indústria. Não comparemos, pois, a moral dos Chineses com a da Europa. Cada qual teve de se mostrar atento, na China, àquilo que lhe podia ser útil: se o velhaco velou pelos seus interesses, aquele que se tornou sua vítima, deveria velar duplamente pelos seus. Na Lacedemonia, era permitido roubar; na China é permitido enganar.
(Montesquieu, 'Do Espírito das Leis', Explicação de um paradoxo sobre os Chineses, S. Paulo, Brasil Editora, 1960, Livro Décimo Nono, Cap. XX, pág. 351)

GOLPE D'ASA PRESIDENCIAL?



É consensual que Portugal, tendo chegado ao que chegou, já não pode passar sem um golpe d'asa, sem um conjunto de acções simples, com objectivos claros e entusiasmantes, no sentido de recolocar o país num caminho seguro e duradouro de confiança e de progresso.
Para tal, é indispensável o protagonismo de um líder, na linha de alguns que, ao longo da história da nação, construiram o fio condutor que trouxe Portugal até hoje, não obstante as fases críticas por que passou.
Poderá algum dos candidatos à Presidência da República que actualmente se perfilam dar corpo a esse golpe d' asa?
Portugal está a atravessar uma das fases mais críticas da sua história, se não a mais crítica, fundamentalmente porque o modelo de acumulação de que anda à procura há décadas, tem agora, e pela primeira vez em muitos séculos, que assentar necessariamente na produção de riqueza interna.
E isto, quando a autonomia económica do país tem vindo a ser sistematicamente destruída, por ausência de aplicação de uma estratégia capaz de a garantir.
Ora, terão Mário Soares e Cavaco Silva estrutura para vestirem a pele desse líder de que Portugal carece? Serão eles homens para o golpe d'asa?
Mário Soares, com Mota Pinto, foi responsável pelo primeiro Conceito Estratégico de Defesa Nacional (CEDN), produzido em 1984, instituto do actual ordenamento jurídico-constitucional que melhor serve a questão concreta da estratégia nacional.
No debate parlamentar para a sua aprovação, Mota Pinto referiu: “o conceito de defesa nacional não pode deixar de afirmar a imperatividade de se criarem e de se incrementarem as condições sociais de independência, através do desenvolvimento das forças produtivas e criadoras, nomeadamente do desenvolvimento industrial, científico e tecnológico nos sectores mais carecidos e relevantes em termos estratégicos, em ordem a diminuir, na medida do possível, a dependência em relação ao exterior” (in Defesa Nacional e Forças Armadas, Caderno XVI, Lisboa, CDI/MDN, p. 4).
O que fez Mário Soares para pôr em prática esse primeiro conceito estratégico? O que fez e não fez está à vista de todos, entra-nos pelos olhos dentro hora a hora!
O segundo CEDN, de 1994, da responsabilidade de Cavaco Silva e de Fernando Nogueira, menciona como orientação para as estratégias gerais no plano político interno, “desenvolver as capacidades criadoras e produtivas nacionais num quadro de interdependência económica e financeira internacional, por forma a reduzir tanto quanto possível as fontes de vulnerabilidade em sectores estratégicos da economia” (alínea e do n.º 2 da Parte 3).
O que é que o académico Cavaco Silva, com a auréola de grande economista e professor que alardeia, fez e não fez para pôr em prática tal desiderato estratégico? Só não vê quem não quer o desastre que temos pela frente!
Quer Mário Soares, quer Cavaco Silva, já demonstraram não ter estofo para a tarefa histórica, de Estado, que Portugal exige. A instauração da democracia foi necessária, a sua manutenção é necessária, mas, de todo, não é suficiente.
Há que ser realista e reconhecer que, tal como se encontra o panorama político português, em rarefacção de líderes, o país ainda vai ter que suportar um deles por mais um ou dois mandatos.
Mas mais importante do que isso é ter consciência que se torna urgente analisar o processo de recrutamento dos políticos, para se poder actuar. Obviando a que o automatismo da sucessão monárquica não tenha definitivamente dado lugar ao espontaneismo republicano de presidentes tolos, de que o actual é, aliás, um expoente.

terça-feira, agosto 23, 2005

descaminhos / VERGONHA

Vergonha é o mínimo que se pode dizer do que se está a passar com as atitudes do Governo, sob a batuta de uma Secretária de Estado dos Transportes arrogante, teimosa e autista, a propósito da fábrica da Bombardier na Amadora.
Sem que a comunicação social mostre à opinião pública a irresponsabilidade política dos actos do Governo, no âmbito da expropriação em curso, tendo em conta os graves efeitos estruturais que serão produzidos e se farão sentir muito para além da presente legislatura!
Com a agravante de o comportamento do Governo, pela mão de uma Secretária de Estado claramente obcecada, contrariar frontalmente um conjunto de disposições e de políticas anteriormente estabelecidas, confirmadas de resto no programa do actual governo, no sentido da concorrência e da regulação em geral. Incluindo, portanto, o sector ferroviário.
O procedimento estatizante do Governo - ainda que ao melhor nível dos tempos socialistas do PREC (agora, aparentemente renascidos com a candidatura do neo-radical Mário Soares...) -, não pode dar lugar à utilização dos dinheiros públicos como se fossem seus, sem justificação.
A única maneira de reduzir consistentemente a incomportável despesa pública que a CP, mormente a sua gestão, representa é promovendo a concorrência!
Ora, as medidas em curso, no caso Bombardier, resultam exactamente no contrário. Tornar a Amadora num Centro de Competência da EMEF, empresa 100% CP, é colocar esta operadora em condições ainda mais desiguais de concorrência com potenciais operadoras, dentro em breve permitidas pela abertura do mercado.
Corresponde a uma ajuda de Estado encapotada, que tem por efeito prático eliminar logo à partida a concorrência potencial!
E, qual cereja em cima do bolo, são medidas destinadas a afastar o já de si fraco investimento estrangeiro em Portugal, uma vez que são a prova real do risco que o mesmo corre de, na aplicação das suas estratégias empresariais, se deparar com uma qualquer Secretária de Estado que faz tábua rasa dos princípios políticos por que se rege um sector ferroviário moderno. Inserido, para mais, na esclarecida política europeia do respectivo Livro Branco que Portugal só ganha em apoiar.

segunda-feira, agosto 22, 2005

hope / CONTRANATURA?


magister dixit / FILOSOFIA

O desenvolvimento da minha filosofia aconteceu como segue: a minha mulher, tendo-me convidado para provar o seu primeiro soufflé, deixou cair uma colher dele no meu pé, fracturando vários ossinhos. Chamaram-se os médicos, tiraram-se e examinaram-se as radiografias e mandaram-me ir para a cama durante um mês. Durante a convalescença virei-me para as obras de alguns dos mais formidáveis pensadores da sociedade ocidental - um monte de livros que eu tinha posto de parte exactamente para uma destas eventualidades. Desprezando a ordem cronológica, comecei com Kierkegaard e Sartre, depois saltei rapidamente para Espinosa, Hume, Kafka e Camus. Não me chateei, como temia que acontecesse; pelo contrário, fiquei fascinado pela alacridade com que essas grandes inteligências abordavam sem tergiversar a moral, a arte, a ética, a vida e a morte. Lembro-me da minha reacção perante uma observação tipicamente luminosa de Kierkegaard: "Uma tal relação que se relaciona a si consigo mesmo (quer dizer, com o Eu) tem de se ter constituído a si própria ou ter sido construída por outrem." O conceito fez-me vir as lágrimas aos olhos. Palavra de honra - pensei, como ele é inteligente! (Eu sou um tipo que tem dificuldades em escrever duas frases intelegíveis sobre 'O dia que passei no Jardim Zoológico'). Na verdade, a passagem era totalmente incompreensível para mim, mas que importava se Kierkegaard se tinha divertido a escrevê-la? Acreditando, de repente, que a metafísica era o trabalho que sempre desejara fazer, peguei na caneta e comecei de imediato a anotar a primeira das minhas próprias meditações. A obra desenvolveu-se com presteza, e no espaço de duas tardes - com um intervalo para uma soneca e para tentar meter umas bolinhas nos olhos do urso - completei a obra filosófica que desejo não seja revelada antes da minha morte ou até ao ano 3000 (o que acontecer primeiro) e que, modestamente, acredito que me assegurará um lugar de destaque entre os mais valorosos pensadores da História.
(Woody Allen, 'Para acabar de vez com a cultura', Lisboa, Bertrand, 1980, pág. 31)

CONFUSÃO ESTRATÉGICA









Em Portugal, hoje, a confusão sobre o que são sectores estratégicos é total, pelo que convém esclarecer.

A energia é um sector estratégico. As telecomunicações são um sector estratégico. As autoestradas são estratégicas. As águas são um sector estratégico. O sector financeiro é um sector estratégico. A saúde é estratégica. A distribuição é um sector estratégico.

Confundem-se duas realidades relativamente distintas: os recursos ou meios estratégicos, por um lado, e as competências ou capacidades técnicas e comerciais, por outro.

Um país pode ter muito boas autoestradas, um sistema de saúde óptimo para a sua população, energia por todo o lado sem falhas, água da melhor qualidade para beber, telemóveis para todos, os bancos mais avançados do mundo e um sistema de distribuição muito eficiente, omnipresente. Pode..., ainda que os tenha através de uma dívida pública e privada enorme...

Mas o que fará com isso tudo se não utilizar esses recursos, ou meios, para vender a terceiros as suas competências, os bens e serviços em que se diferencia no mercado internacional?

Esses meios são como que o hardware e o software das capacidades nacionais. Que, de pouco valem, se não se lhes introduzir conteúdo.

Este conteúdo são os sectores estratégicos em que a economia portuguesa se deve especializar, para através deles se diferenciar no mercado. Com as competências resultantes da inovação, da investigação e desenvolvimento. Com as capacidades técnicas provenientes de uma história de engenharia de que Portugal se orgulha. Com as capacidades comerciais trazidas por um marketing bem direccionado.

Definidos os sectores estratégicos de conteúdo, é fundamental estabelecer os mercados-chave, onde esses sectores estratégicos devem concentrar esforços. O Estado não pode, não deve deixar ao livre arbítrio das forças do mercado o estabelecimento desses mercados-chave. É um assunto vital, para qualquer estado.

Alguns dos sectores 'ware' portugueses referidos, têm vindo a desenvolver-se como se fossem, ou pretendendo ser, também sectores estratégicos de conteúdo. Não é um problema, pode até ser uma vantagem, desde logo porque o mercado nacional serve como laboratório adequado para o lançamento de novos produtos ou serviços.

Mas então que se defina (com o Estado a não se pôr de fora...), por exemplo, que Portugal quer ser um produtor/distribuidor de energia, em termos internacionais, dando sequência séria, apoiada, aos importantes investimentos que a Energias de Portugal tem vindo a fazer.

E o mesmo para as águas, as telecomunicações, as autoestradas, os bancos, a saúde, a distribuição, ou para alguns deles.

Sem esquecer, contudo, que há outros sectores de conteúdo, que não se confundem com esses sectores 'ware', e que é indispensável qualificar como estratégicos.

É que o núcleo central do ensino e da investigação, em Portugal, deve coincidir com os objectivos estratégicos desses sectores de conteúdo, onde se inclui a satisfação das necessidades dos mercados-chave!

aisthesis / UM RIO DE LUZES

Um rio de escondidas luzes
atravessa a invenção da voz:
avança lentamente
mas de repente
irrompe fulminante
saindo-nos da boca

No espantoso momento
do agora da fala
é uma torrente enorme
um mar que se abre
na nossa garganta

Nesse rio
as palavras sobrevoam
as abruptas margens do sentido

(Ana Hatherly, Um rio de Luzes, in O Pavão Negro - 2003)

domingo, agosto 21, 2005

marco / VANESSA


Vanessa Fernandes, ao confirmar uma geração de ouro e ao bisar como campeã europeia de elites, como que ajuda a compensar tanta falta delas em Portugal.
Ainda por cima vencendo uma espanhola. Seguramente com melhores condições de preparação, como é costume.
Motivo de orgulho e de esperança. Obrigado.

sábado, agosto 20, 2005

aisthesis / A GÉNESE DO AMOR



Talvez um intervalo cósmico
a povoar, sem querer, a vida:
talvez quasar que a inundou de luz,
retransformou em matéria tão densa
que a cindiu,
a reteve, suspensa,
pelo espaço —

Eram formas cadentes
como estas:

Imagens como abóbadas de céu,
de espanto igual ao espanto em que nasceram
as primeiras perguntas sobre os deuses,
o zero, o universo,
a solidez da terra, redonda e luminosa,
esperando Adamastores que a domestiquem,
ou fogos-fátuos incendiando olhares,
ou marinheiros cegos, ávidos de luz,
da linha que, em compasso,
divide céu e
mar

Quasar é pouco, porque a palavra rasa
o que a pele
descobriu. E a pele também não chega:
pequeno meteoro em implosão

Estátua em lume, talvez,
à espera, a paz (ainda que haja ausente
crença ou fé), e, profano, o desenho
desses estranhos bichos,
semi-monges, malditos,
deslumbrados,
e uma visão, talvez,
na penumbra serena de algum
claustro

Talvez assim tivesse algum
sentido
a génese do amor

fancy / CONVITE A SOARES


O artigo de Mário Soares, no Expresso de hoje, obriga-nos a fazer-lhe um convite.

E o convite é: observar o terrorismo, na sua expressão actual, como aquilo que ele é na sua essência: uma característica da natureza humana que, hoje, tem à sua disposição os meios tecnológicos e a liberdade que os regimes políticos mais abertos do mundo têm partilhado indiscriminadamente.
Tal como Marx, que imaginava que seria possível atingir a sociedade sem classes, sem atender às barreiras biológicas de facto existentes nas sociedades humanas, Mário Soares luta contra o vento...
Entende que, para combater o terrorismo, é preciso meter mais achas na fogueira: dialogar com os terroristas. São as suas "perguntas incontornáveis": "Poderá (deverá) combater-se eficazmente o terrorismo usando as mesmas armas do terror, distorcendo e ignorando os valores essenciais dos Estados de Direito?".
Foi com homens com o seu pensamento generoso, mas de uma ingenuidade colectivamente suicidária, que o Ocidente e a Europa, em particular, chegaram onde estão! Albergando fraternamente no seu seio os criminosos que irracional e cobardemente matam civis indefesos, como aconteceu agora no Reino Unido.
Mário Soares não gasta uma única palavra, no seu artigo, sobre esses assassinados, mas preocupa-se, bem ao seu modo, com o "desgaste político e psicológico manifestos - quanto à forma como têm sido tratados os prisioneiros, das guerras do Afeganistão e do Iraque, em Guantanamo e Bagdade, com total desrespeito dos mais elementares direitos, torturas e atentados à dignidade das pessoas, inaceitáveis como práticas correntes".
Pisa e repisa a ideia de que Bush é que conduziu a América e o Ocidente para esta aventura do Iraque, esquecendo-se de recorrer ao seu tão caro conceito de "valores essenciais dos Estados de Direito", para compreender, e aceitar, que o povo americano sancionou através de eleições recentes esta política.
Quer agora que "tenhamos esperança no bom senso e na razoabilidade das opiniões públicas e das elites dos dois lados do Atlântico para imporem uma dramática mudança de política e reforçarem as Nações Unidas, trazendo ao mundo, a todo o mundo, um novo alento de esperança e de paz".
A fantasia de Mário Soares - e o confrangedor lirismo com que trata estes assuntos -, só não são perigosos porque, mesmo que venha novamente a exercer funções políticas em Portugal, ninguém quer saber do que pensa este país, ainda por cima representado por lunáticos.
Note-se que a Europa o rejeitou liminarmente quando sonhou com o Parlamento Europeu...
Aliás, foi a acção política de Mário Soares, correspondente ao seu dadivoso pensamento, aproveitando-se do obscurantismo do anterior regime, em Portugal, que levou a população a acreditar que a democracia resolveria todos os problemas de Portugal e a colocar o país na sua maior crise histórica, de sempre.
Este rectangular laboratório de Mário Soares não beneficiou nada, afinal, da sua grande visão sobre o "pântano onde estão a afundar-se os valores ocidentais, aos olhos do mundo islâmico, e o prestígio e até a força dos Estados Unidos no mundo, o que escrevo com grande constrangimento e tristeza pelas gravíssimas consequências que daí resultam para os equilíbrios geoestratégicos internacionais".
O modo como conduziu a descolonização foi para evitar uma ante-câmara desse pântano, em nome dos "equilíbrios geostratégicos internacionais", para garantir "o prestígio e até a força dos Estados Unidos no mundo"?
Dá para pensar se Mário Soares não achará uma pena Portugal já não ter colónias...
Para poder jogar com elas outra vez no tabuleiro da cena política internacional, em nome das grandes ideologias que lhe povoam o fraco espírito, e, quem sabe, poder sonhar com o epíteto do fundador do fim do terrorismo.