terça-feira, agosto 16, 2005

fancy / À TONA

Se alguma dúvida ainda houvesse sobre o papel que António Vitorino desempenha como comentador de serviço, ficou ontem dissipada.

Conseguindo ser menos objectivo do que Rebelo de Sousa e Pacheco Pereira, mostrou, na prova de fogo a que foi submetido, que o seu instinto gregário se sobrepõe a quaisquer veleidades da razão.

É lá alguém (que utilize uma porção mínima de razão) capaz de compreender a defesa que fez da ausência do primeiro-ministro, em férias, com as perdas humanas e materiais que estão a ocorrer devido aos incêndios em Portugal?

É esta noção do dever político de um eleito que Vitorino aprendeu enquanto esteve comissário na UE?

O corte, o golpe de asa, que se impõe não pode, pois, contar com um homem tão fechado, tão mesquinhamente circunscrito aos interesses partidários, tão solícito na defesa do indefensável. Desenganem-se os que alimentavam a esperança de, finalmente, aparecer alguém com visão, em Portugal!

De resto, não se lhe conhecem também análises suficientemente profundas sobre o que está mal no sistema português, sobre o que está a conduzir o país para a perda de independência através da economia, não obstante ter uma democracia consolidada e desenvolvida.

Será adepto da crença de que uma 'mão invisível' actuará no momento próprio, para recolocar a economia portuguesa num caminho de desenvolvimento?

Achará que Portugal não precisa de juntar, decididamente e com urgência, em projectos comuns, interesses privados e públicos, com o objectivo de tornar o país competitivo, perante a globalização?

Terá porventura reparado já que, nestes tempos, os países mais avançados, contam com a suas empresas públicas e privadas, para conquistarem posições correspondentes às que, até não há muito, eram obtidas essencialmente com meios militares?

Apercebeu-se que esses países, democráticos, têm objectivos inseridos nas suas leis principais, onde se incluem, para além da garantia dos recursos estratégicos, os mercados-chave, que servem para orientar todas as suas políticas?

E já terá notado que, nessas matérias, Portugal tem um atraso ancestral, atraso que impregna o bafiento texto constitucional?

António Vitorino fica, como os demais, à tona, limitado pela teia de interesses imediatos da manutenção dos seus correlegionários no poder ... não é com a sua atitude, exemplificada acima, que conquistaremos outra vez a distância.