segunda-feira, agosto 15, 2005

parti pris / CIUDAD REAL


A mistificação sobre o investimento no transporte ferroviário de alta velocidade, em Portugal, não poderia ser mais reveladora do estado em que estão os nervos dos portugueses.

Só falta mesmo o Governo de Portugal passar a estabelecer, ou aplicar, as suas políticas em função da discussão pública (gritaria) que as mesmas provocarem sobre os respectivos efeitos na subida ou descida do valor das acções na Bolsa ...

Haja ou não decoro, a decisão sobre o investimento público na alta velocidade não tem de estar dependente de estudos económicos, financeiros ou sociais, que não sejam os de garantir um preço justo nas adjudicações!

A questão da procura e da oferta no serviço de transporte ferroviário remete para análises sem fim, de tal modo que, a ser-lhes dado espaço, a vontade política de qualquer governo, ficaria reduzida a nada.

Pelos dados históricos e pelo conhecimento de casos recentes, pode-se afirmar, com bastante rigor, que a oferta de transporte ferroviário promove a procura deste tipo de transporte, ao mesmo tempo que permite a organização ou a reorganização do território.

Foi o que aconteceu com a implantação e desenvolvimento do transporte ferroviário em Portugal. Quantas cidades são hoje o que são, pura e simplesmente porque foram bafejadas pela sorte de se encontrarem no cruzamento das linhas que foram inicialmente desenhadas?

E o exemplo recente, de resto relativo a alta velocidade, de Ciudad Real, em Espanha? Repare-se nas conclusões do estudo "Cambios en las ciudades intermedias de la línea de alta velocidad Madrid-Sevilla entre 1991 e 2001":

El AVE parece jugar un papel de relanzador de la ciudad en algún caso, de estímulo al desarollo, precisamente en ciudades que no estaban entre las más dinámicas, como es el caso de Ciudad Real, tradicionalmente fuera de las principales redes de circulación. Y ello a pesar de no haber existido, de forma generalizada, la previsión y planificación adecuadas para que el nuevo medio de transporte cumpliera ese papel dinamizador. (subl. n/).

Para além de tudo o mais, que é muito, o traçado da alta velocidade em Portugal poderá ser uma grande oportunidade para algum reequilíbrio do território, em termos de desenvolvimento, a julgar pelos exemplos disponíveis.

Não se conhecem posições mais reflectidas, tecnicamente ajustadas e alinhadas com o interesse nacional, no que respeita ao traçado mais adequado para a alta velocidade em Portugal, do que as que têm vindo a ser explicadas pacientemente, ao longo de muitos anos, pela ADFER e, em especial por Arménio Matias, seu presidente.

São elas que devem e têm que ser aplicadas, não de um ápice, evidentemente, mas como um plano de longo prazo, que o equilíbrio das finanças públicas assim o impõe.

Vai ser difícil aos Velhos do Restelo cantarem vitória...!