sábado, agosto 20, 2005

fancy / CONVITE A SOARES


O artigo de Mário Soares, no Expresso de hoje, obriga-nos a fazer-lhe um convite.

E o convite é: observar o terrorismo, na sua expressão actual, como aquilo que ele é na sua essência: uma característica da natureza humana que, hoje, tem à sua disposição os meios tecnológicos e a liberdade que os regimes políticos mais abertos do mundo têm partilhado indiscriminadamente.
Tal como Marx, que imaginava que seria possível atingir a sociedade sem classes, sem atender às barreiras biológicas de facto existentes nas sociedades humanas, Mário Soares luta contra o vento...
Entende que, para combater o terrorismo, é preciso meter mais achas na fogueira: dialogar com os terroristas. São as suas "perguntas incontornáveis": "Poderá (deverá) combater-se eficazmente o terrorismo usando as mesmas armas do terror, distorcendo e ignorando os valores essenciais dos Estados de Direito?".
Foi com homens com o seu pensamento generoso, mas de uma ingenuidade colectivamente suicidária, que o Ocidente e a Europa, em particular, chegaram onde estão! Albergando fraternamente no seu seio os criminosos que irracional e cobardemente matam civis indefesos, como aconteceu agora no Reino Unido.
Mário Soares não gasta uma única palavra, no seu artigo, sobre esses assassinados, mas preocupa-se, bem ao seu modo, com o "desgaste político e psicológico manifestos - quanto à forma como têm sido tratados os prisioneiros, das guerras do Afeganistão e do Iraque, em Guantanamo e Bagdade, com total desrespeito dos mais elementares direitos, torturas e atentados à dignidade das pessoas, inaceitáveis como práticas correntes".
Pisa e repisa a ideia de que Bush é que conduziu a América e o Ocidente para esta aventura do Iraque, esquecendo-se de recorrer ao seu tão caro conceito de "valores essenciais dos Estados de Direito", para compreender, e aceitar, que o povo americano sancionou através de eleições recentes esta política.
Quer agora que "tenhamos esperança no bom senso e na razoabilidade das opiniões públicas e das elites dos dois lados do Atlântico para imporem uma dramática mudança de política e reforçarem as Nações Unidas, trazendo ao mundo, a todo o mundo, um novo alento de esperança e de paz".
A fantasia de Mário Soares - e o confrangedor lirismo com que trata estes assuntos -, só não são perigosos porque, mesmo que venha novamente a exercer funções políticas em Portugal, ninguém quer saber do que pensa este país, ainda por cima representado por lunáticos.
Note-se que a Europa o rejeitou liminarmente quando sonhou com o Parlamento Europeu...
Aliás, foi a acção política de Mário Soares, correspondente ao seu dadivoso pensamento, aproveitando-se do obscurantismo do anterior regime, em Portugal, que levou a população a acreditar que a democracia resolveria todos os problemas de Portugal e a colocar o país na sua maior crise histórica, de sempre.
Este rectangular laboratório de Mário Soares não beneficiou nada, afinal, da sua grande visão sobre o "pântano onde estão a afundar-se os valores ocidentais, aos olhos do mundo islâmico, e o prestígio e até a força dos Estados Unidos no mundo, o que escrevo com grande constrangimento e tristeza pelas gravíssimas consequências que daí resultam para os equilíbrios geoestratégicos internacionais".
O modo como conduziu a descolonização foi para evitar uma ante-câmara desse pântano, em nome dos "equilíbrios geostratégicos internacionais", para garantir "o prestígio e até a força dos Estados Unidos no mundo"?
Dá para pensar se Mário Soares não achará uma pena Portugal já não ter colónias...
Para poder jogar com elas outra vez no tabuleiro da cena política internacional, em nome das grandes ideologias que lhe povoam o fraco espírito, e, quem sabe, poder sonhar com o epíteto do fundador do fim do terrorismo.