sexta-feira, agosto 12, 2005

cataventos / SUPERFICIAL

Os problemas de liderança incapaz, em Portugal, não se limitam aos detentores do poder político que temos vindo a ter de há umas boas décadas a esta parte.

Também a larga maioria dos 'opinion makers' que, por várias gerações, vêm introduzindo as suas proféticas ideias na sociedade portuguesa, alguns até pomposamente apelidados "maître-à-penser", são de qualidade que deixa muito a desejar.

Já referimos os casos fancy de Vasco Pulido Valente e de Marcelo Rebelo de Sousa.

É agora a vez de José Pacheco Pereira que, mais do que comentador fantasista, leva-nos a ser visto como catavento.

Assume-se como tendo sido um maoísta: "No início de 70 ... politizámo-nos muito rapidamente e, na altura e no caso português, essa politização passava pelo maoismo".

Para, poucos anos depois, dizer: "Fui das primeiras pessoas da minha geração a abandonar as organizações da extrema-esquerda ... em Abril de 75".

E logo na primeira campanha presidencial de Mário Soares: " É. Estive no MASP e fi-lo com muito gosto".

Donde, sempre fulgurantemente, segue em aproximação a Cavaco Silva...

Não sabemos qual vai ser o próximo apeadeiro de Pacheco Pereira, mas também o que interessa é preceber-se que as ideias que profusamente veicula são essencialmente as que resultam de modas ou de circunstâncias alheias. Deambulando, para todos os efeitos, sempre à superfície, sem apanhar as correntes duradouras dos fundos...

Sendo como é um estudioso da história, como nunca se deu ao trabalho de perscrutar no pensamento genuinamente português as fontes das ideias originais de que o país tanto carece?

Não temos acervo suficiente?

Imbuído de um espírito anti-Salazar/Caetano obcecado, contemporâneo da sua formação, confundirá a respectiva defesa intransigente do império com os elementos estruturais do comportamento dos portugueses, consciente e intencionalmente enraizados em particular durante a segunda dinastia? Que nada têm a ver com a passiva-defensiva visão salazarista/caetanista?

Portugal, e a sua função no mundo, têm de ser pensados de modo mais abrangente, fazendo um real e definitivo esforço de relativização da época em que se formaram os principais comentadores de serviço.

Esse é um passo indispensável para o enquadramento de uma estratégia de muito longo prazo a que, mais cedo ou mais tarde, não tendo nós tomado a iniciativa, o sistema internacional em que nos inserimos nos vai obrigar, se queremos sobreviver como estado verdadeiramente independente.

Estará Pacheco Pereira à altura de participar numa tarefa dessas ou já não consegue mesmo sair do atoleiro?