segunda-feira, agosto 29, 2005

princípios / DEFINIR DIREITA

Chamo aqui de direita, por pura convenção, a atitude que consiste em tomar em consideração a diversidade do mundo e, por consequência, as desigualdades relativas que dela necessariamente decorrem, como um bem; e a homogeneização progressiva do mundo, proposta e realizada pelo discurso duas vezes milenário da ideologia igualitária, como um mal. Chamo de direita as doutrinas que consideram que as relativas desigualdades da existência induzem relações de força cujo produto é o devir histórico - e que consideram que a história deve continuar - resumindo, que "a vida é a vida, quer dizer, um combate, tanto para uma nação como para um homem" (Charles de Gaulle). Quer isto dizer que, a meus olhos, o inimigo não é a "esquerda", ou "o comunismo", ou ainda "a subversão", mas pura e simplesmente esta ideologia igualitária cujas formulações, religiosas ou laicas, metafísicas ou pretensamente "científicas" não deixam de florir desde há dois mil anos, de que as "ideias de 1789" não foram mais do que uma etapa e de que a subversão actual, e o comunismo, são a inevitável consequência.
Isto não significa, e fique bem entendido, que toda e qualquer desigualdade seja, a meus olhos, necessariamente justa. Pelo contrário, há numerosas desigualdades perfeitamente injustas; e muitas vezes são aquelas que a nossa sociedade igualitária deixa subsistir. Professar uma concepção anti-igualitária da vida é considerar que a diversidade é um dado da realidade, e que esta diversidade inclui as desigualdades de facto; que a sociedade deve tomar em conta estas desigualdades e admitir que o valor das pessoas, em relação aos diversos objectos, é incomensurável e diferente de uma pessoa a outra. É considerar que nas relações sociais, este valor é, essencialmente, medido pelas responsabilidades que cada um assume em relação com as suas aptidões concretas; que a liberdade reside na possibilidade efectiva de exercer essas responsabilidades; que a essas responsabilidades correspondem direitos proporcionados, e que de tal facto resulta uma hierarquia, baseada sobre o princípio uniquique suum.
(Alain de Benoist, 'Nova Direita Nova Cultura' ['Vue de Droite' no original], Lisboa, Edições Afrodite, 1981, pág. XXIV)