segunda-feira, agosto 08, 2005

fancy / NAS BORDAS

Na galeria dos que sistematicamente analisam e criticam, Marcelo Rebelo de Sousa é um dos que não se fica apenas pela análise e crítica, como é, por exemplo, o caso de Vasco Pulido Valente.
Marcelo às vezes aponta caminhos, embora saibamos que, quando bordejou o poder, não teve a 'endurance' suficiente para se cotar como um concretizador.
Mas a que linha de pensamento fundamental, eficaz para Portugal, se podem relacionar esses caminhos que o político, comentador e professor aponta, quando aponta?
Quase definitivamente, devemos dizer que não consegue subtrair-se à política mundana e quotidiana, soçobrando mesmo quando a amizade o obriga a branquear comportamentos mais do que duvidosos dos que classifica como seus amigos.
As suas observações, extremamente empíricas, justificam-se por supostamente querer atingir segmentos de população que venham a servir os seus objectivos políticos pessoais?
Acontece que, mesmo a classe média nacional, está cada vez mais carente de uma solução para Portugal, com uma visão abrangente, à dimensão do lúcido e pujante projecto dos Descobrimentos, o que não parece, de todo, ser preocupação de Marcelo Rebelo de Sousa.
Mais grave é se, mais do que não ser preocupação, corresponde a uma perspectiva típica da geração em que se insere e que se identifica, genericamente, por aqueles que, tendo sido formados por valores de um Portugal inserido no euromundismo, se encontram ainda perdidos pela indefinição do papel de Portugal no mundo pós entrega dos seus territórios ultramarinos, pós queda do muro de Berlim e, também já, pós 11 de Setembro.
Perdidos e incapazes de reagir, continuando na linha de dependência da soberania de Portugal perante factores externos muito limitadores do poder de decisão, que se verifica desde os efeitos da crise de 1580-1640.
Incapazes de reagir, pese embora as múltiplas oportunidades que se encontram hoje ao dispor de quem é herdeiro de inimagináveis e engenhosas conquistas, plenas de capacidade de liderança.
Bem vistas as coisas, Marcelo Rebelo de Sousa coloca-se muito à superfície, não se liberta da fantasia da história das pequenas durações, não demonstrou, até hoje, ser capaz de engendrar um pensamento e, menos, mobilizar a opinião, no sentido da função que Portugal pode e deve ter no mundo.
Será que entende que pensar uma estratégia para Portugal não é próprio de uma democracia? Que se deve deixar ao mercado das ideias o seu surgimento, por geração espontânea? Que um texto constitucional, programático praticamente apenas quanto aos direitos dos cidadãos, é suficiente para, um dia, 'dar à luz' um caminho para Portugal?