segunda-feira, agosto 22, 2005

CONFUSÃO ESTRATÉGICA









Em Portugal, hoje, a confusão sobre o que são sectores estratégicos é total, pelo que convém esclarecer.

A energia é um sector estratégico. As telecomunicações são um sector estratégico. As autoestradas são estratégicas. As águas são um sector estratégico. O sector financeiro é um sector estratégico. A saúde é estratégica. A distribuição é um sector estratégico.

Confundem-se duas realidades relativamente distintas: os recursos ou meios estratégicos, por um lado, e as competências ou capacidades técnicas e comerciais, por outro.

Um país pode ter muito boas autoestradas, um sistema de saúde óptimo para a sua população, energia por todo o lado sem falhas, água da melhor qualidade para beber, telemóveis para todos, os bancos mais avançados do mundo e um sistema de distribuição muito eficiente, omnipresente. Pode..., ainda que os tenha através de uma dívida pública e privada enorme...

Mas o que fará com isso tudo se não utilizar esses recursos, ou meios, para vender a terceiros as suas competências, os bens e serviços em que se diferencia no mercado internacional?

Esses meios são como que o hardware e o software das capacidades nacionais. Que, de pouco valem, se não se lhes introduzir conteúdo.

Este conteúdo são os sectores estratégicos em que a economia portuguesa se deve especializar, para através deles se diferenciar no mercado. Com as competências resultantes da inovação, da investigação e desenvolvimento. Com as capacidades técnicas provenientes de uma história de engenharia de que Portugal se orgulha. Com as capacidades comerciais trazidas por um marketing bem direccionado.

Definidos os sectores estratégicos de conteúdo, é fundamental estabelecer os mercados-chave, onde esses sectores estratégicos devem concentrar esforços. O Estado não pode, não deve deixar ao livre arbítrio das forças do mercado o estabelecimento desses mercados-chave. É um assunto vital, para qualquer estado.

Alguns dos sectores 'ware' portugueses referidos, têm vindo a desenvolver-se como se fossem, ou pretendendo ser, também sectores estratégicos de conteúdo. Não é um problema, pode até ser uma vantagem, desde logo porque o mercado nacional serve como laboratório adequado para o lançamento de novos produtos ou serviços.

Mas então que se defina (com o Estado a não se pôr de fora...), por exemplo, que Portugal quer ser um produtor/distribuidor de energia, em termos internacionais, dando sequência séria, apoiada, aos importantes investimentos que a Energias de Portugal tem vindo a fazer.

E o mesmo para as águas, as telecomunicações, as autoestradas, os bancos, a saúde, a distribuição, ou para alguns deles.

Sem esquecer, contudo, que há outros sectores de conteúdo, que não se confundem com esses sectores 'ware', e que é indispensável qualificar como estratégicos.

É que o núcleo central do ensino e da investigação, em Portugal, deve coincidir com os objectivos estratégicos desses sectores de conteúdo, onde se inclui a satisfação das necessidades dos mercados-chave!