segunda-feira, agosto 08, 2005

descaminhos / TAMPÃO


As notícias sobre o fracasso do GES (Grupo Espírito Santo) na Argentina, fazem emergir um dos problemas estruturais mais significativos que o desenvolvimento de Portugal enfrenta.

É conhecida, agora com mais profundidade, a ligação entre o excesso de protagonismo do GES nas promessas de avantajados negócios na Argentina e a falta de agenda do seu Presidente para receber o Presidente da República Portuguesa, à última hora.

São públicas as relações entre o GES e o BES, por um lado, e ministros e secretários de estado, por outro, os quais saem dessas interligadas entidades para o governo e deste regressam às mesmas, com todo o despudor.

Não se percebe, inclusivamente, por que razão o Banco de Portugal, incumbente em matéria de supervisão das instituições de crédito e sociedades financeiras, não se pronuncia sobre a transparência exigível na relação entre aquelas duas entidades.

Tal como na decisão sobre o sucessor do chefe do penúltimo governo da Constituição de 1933, os grupos económicos de visão limitada aos seus ganhos imediatos e particulares, minaram a possibilidade de uma evolução do conceito estratégico nacional sem rupturas, continuam agora - sobreviventes do PREC pós 1974 -, a minar por uma prática experimentalista dos negócios, o estabelecimento de uma estratégia como fundamento indispensável de um desenvolvimento pensado do país.

O tampão em que se constitui este comportamento consentido, de 'um grupo que tem um banco que está ligado a um grupo', não tem sido objecto de suficiente atenção, como concentrador de hipóteses de negócios e filtrador da concorrência, muito na linha do condicionamento industrial metropolitano e da política de concessões ultramarina, não tão afastadas como se poderia supor.

Cumpre-nos, aqui no re-Descobrimentos, conhecer bem os mecanismos postos em acção, para que possamos contribuir para a sua remoção, sempre que estiverem em colisão com os objectivos em vista.