terça-feira, setembro 06, 2005

princípios / O PAPEL DAS IDEIAS

O caminho percorrido por Portugal desde a revolução de 1974 até chegar à crise actual, é um exemplo, entre muitos da História Universal, que serve para demonstrar que as revoluções políticas, quando comparadas com a força das ideias, não provocam mudanças realmente consequentes e duradouras nas sociedades.
Não podemos esquecer que, mesmo revoluções com o impacto da de 1789, em França, são vistas por pensadores tão significativos como, por exemplo, Alexis de Tocqueville, não em termos de ruptura, mas, pelo contrário, como continuidade.
Neste sentido, a "política" - de que a revolução é um climax -, constitui-se num conjunto de meios demasiado limitados para poderem originar verdadeiras mudanças sociais.
O campo de acção da "política", de resto, tem-se vindo a restringir progressivamente, quer por uma absorção dos extremos pelo centro, quer pela globalização, quer pela determinação tecnológica.
Como consequência, reduz-se a uma prática activista, frequentemente resultante da urgência atribuída aos acontecimentos ou factos, legitimadora da angustiante economia das ideias e da teoria que se verifica, muito especialmente em Portugal.
O papel das ideias, hoje, não é mais o da hegemonia ideológica que diversas correntes desempenharam, sem terem atingido os objectivos.
É, antes, o de fazer emergir as referências que se tornam indispensáveis à vida em sociedades humanas, no seio de um ambiente, de uma natureza que não pode excluir, nem ser excluída pelo homem.
Referências que, de certo modo, podem retomar valores inscritos no património cultural da humanidade, entretanto afastados pela hegemonia das ideologias do uno e, ou do todo.
Os intelectuais, sendo os agentes da produção e da divulgação das ideias e respectivas teorias, não podem realizar o vital papel das ideias nos conturbados tempos que vivemos, se não cortarem completamente com as suas posições de defesa do sistema vigente e se não enjeitarem definitivamente os cenários do espectáculo mediático.