quarta-feira, outubro 19, 2005

caminhos / 'MÃOS LIMPAS' FINALMENTE EM PORTUGAL?

O agudizar da crise económica e financeira em Portugal, com a alegada necessidade imperiosa de cortar os "privilégios" dos magistrados (ora simples funcionários públicos, ora digníssimos titulares de um orgão de soberania), pode vir a resultar numa significativa vantagem.
Vantagem que se pode traduzir num dos caminhos que o país deve trilhar.
É patente uma promiscuidade recorrente entre titulares do Governo e os mais altos responsáveis do sistema financeiro nacional, verificando-se estarem mais aqueles ao serviço destes do que o inverso.
Com o agravamento da falta de fundos (Estado, empresas e bancos incluídos), o Governo - na ante-câmara do estado de pânico e com total inabilidade relativamente às suas próprias cumplicidades -, decidiu atacar tudo e todos a eito, não curando de ressalvar o posicionamento social dos titulares do poder judicial, um poder que não tem mostrado as suas garras em Portugal.
O Governo não mediu bem a força que este poder judicial tem porque, entre outras razões, jamais imaginou que o seu conluio com o poder financeiro em Portugal (uma característica do regime actual), onde se inclui um descarado "laissez-faire, laissez-passer" relativamente ao verdadeiro crime económico e financeiro, pudesse algum dia vir a ser atacado.
Até Maria José Morgado tem limitado as suas referências ao futebol, à construção civil e autarquias, salvaguardando sistematicamente o sistema financeiro.
O desencadeamento da vigorosa chamada das atenções para a investigação ao coração do sistema financeiro português, que está em curso, é claramente uma primeira resposta dos magistrados ao ataque que lhes foi desferido.
É, de facto, um caminho a trilhar, um caminho capaz de fazer emergir uma das reformas estruturais mais necessárias para a sobrevivência e o desenvolvimento de Portugal.