sábado, outubro 29, 2005

CAVACO "O REVERENTE"

Pois, na verdade, ouvido e reflectido o manifesto do candidato Cavaco, não podem restar dúvidas de que há um importante espaço político por preencher, não representado pelos actuais candidatos!
Este espaço político que se encontra sem representante, é o de todos os que compreenderam já que discursos como o deste manifesto são discursos vagos, voluntaristas, piegas e, acima de tudo, discursos da continuidade em não se definir minimamente a função de Portugal no mundo e o rumo a seguir para a consagrar.
Falta-lhe obviamente a visão, a compreensão de que o grande problema nacional é precisamente a ausência de definição dos objectivos nacionais.
Que, nestas três décadas que levamos de democrático regime e diletante sistema, não se conseguiu, pior, não se tentou sequer, elaborar uma função para Portugal no mundo, uma função que substituisse adequadamente a que Portugal teve antes da revolução de 1974.
Não irá mais além o presidente que desenvolva uma "coperação estratégica com a Assembleia da República e com o Governo", não!
Irá, sim, mais além, o primeiro presidente que estabeleça uma estratégia para Portugal, em cooperação com a Assembleia da República e com o Governo.
Portugal está à deriva, não por lhe faltarem personagens e discursos de boa-vontade, repetindo todos os direitos que a Constituição consagra, como Cavaco fez no manifesto.
Portugal está à deriva porque não tem uma noção sobre esses objectivos, essa função, desperdiçando enormes recursos, próprios e, cada vez mais, até alheios, por ausência de um rumo para atingir aqueles objectivos, inseridos nessa função.
Cavaco Silva não tem dimensão para tanto, provou-se uma vez mais.
Novamente se propõe defender, com a máxima convicção das palavras, aqueles que constituem os estratos adjacentes à sua classe de pertença.
Novamente se percebe que será humildemente e respeitosamente reverente para com a sua classe de referência, isto é, para com "os poderosos", um bom aluno para com "os intocáveis" que anseiam pelo seu retorno ao poder.
Uma sua vitória significará incontornavelmente a consolidação e o desenvolvimento, no Portugal de amanhã, de um fosso entre os dois extremos da sociedade, na continuação daquilo que já fez e está a ser sentido por muitos no Portugal de hoje.
Pelo deserto de ideias novas que é o manifesto, significará também um 'marcar passo' do país no sentido da modernidade, do avanço da mentalidade da sociedade portuguesa.
O conteúdo do manifesto traduz ostensivamente uma visão política inerte, dando uma oportunidade ao surgimento de uma candidatura que possa carrear as expectativas das gerações que não se sentem satisfeitas com o sistema.