terça-feira, outubro 25, 2005

descaminhos / BRANQUEAMENTO DO BRANQUEAMENTO



Os bancos têm tido, designadamente nas últimas duas décadas, em Portugal, um papel central no descalabro para que o país corre.
Nunca, como tem acontecido neste período, o Estado usou tão mal o seu poder político de atribuir e retirar capacidade de captação de poupança e de concessão de crédito.
Nunca, como tem acontecido neste período, o Estado abriu mão da aplicação do conceito de banco no sistema económico, tendo permitido as maiores misturas de actividade bancária e não bancária nos mesmos grupos económicos.
Foi concedido aos bancos livre arbítrio pelo poder político, sempre sob a capa de um proteccionismo que ainda hoje se faz sentir pública e exuberantemente, deixando totalmente ao seu critério políticas da maior sensibilidade para o desenvolvimento económico nacional.
Os bancos têm sido parte visivelmente activa na destruição da estrutura produtiva nacional, quer vendendo sem pestanejar empresas do maior simbolismo, quer canalizando o crédito para os particulares em claro detrimento das empresas.
Tudo sob o olhar cúmplice do regulador que anda, evidentemente, sempre atrás dos acontecimentos, num cala-consente da maior inépcia possível.
Sendo Portugal uma economia muito pequena, atravessando desde há muitos anos uma crise crescente de criação de riqueza, estando o desemprego a entrar em força pelas famílias adentro, multiplicando-se as falências, qual é o milagre que os bancos fazem para apresentarem sistematicamente lucros volumosos?
A fraude fiscal qualificada, associada a branqueamento de capitais, trazida agora para as primeiras páginas, alegadamente praticados sistematicamente por diversos bancos, apenas confirma parcialmente o quadro que poderá explicar o milagre.
Mais uma vez, os arautos dos fantasmas que nos perseguem, saem a terreiro dando, como de costume, uma no cravo e outra na ferradura: que vá tudo até ao fim, com transparência, para acto contínuo, gritarem, cuidado!, não vamos todos nós sofrer com a afectação da imagem dos "nossos" bancos...
Já entrámos na fase do branqueamento do branqueamento, com a repugnante tentativa de submeter, uma vez mais, a orientação económica e financeira do país à defesa de meia dúzia de banqueiros incapazes de verem um palmo à frente dos seus mesquinhos interesses particulares.
Será alheio à saúde da economia espanhola o facto de, no auge da sua influência pública, um dos maiores banqueiros de Espanha, ter ido parar à prisão?